Ensaio para noites chuvosas
De repente, sob a chuva, pesa-me o ombro com o peso do chumbo, dolorido e rígido pela queda e o mau tempo. De repente, milímetro a milímetro, me chega e me invades e me impregna da ânsia pálida dos miseráveis, ainda mais miseráveis agora, o tremor combalido das pequenas criaturas, o amargor, que de certo sobreveio a boca pura dos outros animais humanos, vadios, mas alimentados pela queda, a cidade ergue-se sobre si mesma e o corpo abandonado e exposto dos infelizes, dos mortos, das mães em luto, das putas, dos pobres nunca vistos, largados aos pares pelas esquinas negras no fim da madrugada, a chuva chega e passa, eu também, eles não.