SOBRE O VALOR DA ARQUITETURA NO NOSSO MERCADO
Talvez o nosso trabalho seja mesmo ruim ou descolado do que seria algo que realmente gerasse valor para as pessoas. Talvez nosso trabalho, pelo enfoque e (mal) nível técnico, seja um lindo adorno artesanal que, nos momentos de crise, mesmo aquela pequena parte da população que pode custear esse capricho, corte esse custo. Adorno e artesanal. Talvez seja um serviço que a relação entre custo (preço) e resultados não seja relevante a ponto de ser um bom produto, então ninguém quer comprar ou quem quer não pode. A gente está numa economia de mercado e quer empurrar goela baixo nosso "nobre fazer" nas pessoas, que não o compram porque "não valorizam". Sem dúvida ter um estilista pessoal para lhe fazer roupas únicas é legal (original, espirituoso...), mas, devido aos custos óbvios, qual a prioridade disso no orçamento de uma pessoa comum ou mesmo de um rico? Há uma diferença entre aquilo que é válido de qualquer outra forma e aquilo que está no mercado como um bom produto. Estou falando da economia de mercado, porque a gente vive em uma. As pessoas têm um dinheiro, que é limitado, pra trocar por bens e serviços. A arquitetura que a gente faz tem bons resultados e custo-benefício só que não aparece ao público ou simplesmente não tem bom custo-benefício? Arquitetura de faculdade, arquitetura de livro, arquitetura de edital, arquitetura de concurso, arquitetura de lei, tirando essas arquiteturas digamos assim "patrocinadas" (fundamentais nos seus propósitos), a gente tem o mercado de arquitetura. Lá onde existem consumidores, e não mecenas. Se a gente não transformar de alguma maneira esse mercado, oferecendo algo realmente útil e uma atividade que se paga, não vai rolar ganho, não vai rolar trabalho, não vai rolar salário. Os salários no mercado vêm de algum lugar, e a realidade mostra que é não de uma lei que define o piso da categoria por exemplo.