Alma de Chamas
As notas musicais me embalam e me levam tal como inconsciente em um carro desgovernado
Alegro-me sozinha: alegria d'alma, não de vida (tal como estar só, consigo mesma, em lugar abandonado)
A superfície da minha alma, confusa, como um gato assustado, como se houvesse arrepiado
Um segredo oculto pelo esquecimento, mantido e guardado pela memória profunda, como se nunca houvesse sido revelado
Tal é o estado das coisas que me encontram no presente mundo
E que desenterro de dentro do porão da alma
Sem nunca saber o segredo de tudo
Porém, sem nunca revelar perguntas que ardem em chamas
Tal como chamas que se alimentam das respostas
E comem os mistérios aos quais não podemos ter acesso
Não sabemos o curso após a curva do rio que não se mostra
E temos menos entendimento do que quebramos promessas
Por isso nossas faltas ignorantes e grotescas nos são perdoadas
Nem ao menos sabemos se fomos perdoados ou condenados
O limbo, de seres perdidos como nós, está povoado
Meu coração confuso, ainda encharcado, não vê a luz apagada
Faltam-nos pedaços que dão sentido ao todo completo
Que nunca serão encontrados a menos que deixemos todo o resto
E que esqueçamos o que fizemos ou deixamos de fazer
Por que, mais importante do que viver, é simplesmente morrer
Essas chamas que não apagam sem as nossas águas
Que saem do coração, e cada vez mais nos deixam rasas
E perdidas, todos os medos e falhas afogam e encaram
E, assim, os perfumes da superação para sempre de mim exalam
Fogo perfumado: quanto mais queima, mais puro
Quanto mais queimo, menos escuro
A verdadeira realidade já não mais procuro
Pois o que me importa agora, não é mais, e nunca foi...
(delirante voz que desconheço e finjo não querer ouvir)
...Seguro