Radicalismo Antideal

Deus? Que ideia patética! Não careço d'um amigo imaginário p'ra saber que precisamos de sorte [vejam a dureza da vida!]. E mais, se houver uma ciência que me ensine a dominar essa tal sorte de que é necessária a vida, então só me cabe o interesse pragmático de saber correspondê-lo em meus empreendimentos. Tanto faz se chamas-lhe moral, filosofia, código ou religião; sou peremptório em minha defesa: a vida é muito maior que eu, se ela quiser que destrua-me, mas caso contrário, vocês mais "conectados" ensinem-me a viver vivendo (pela empírica do espírito existencial). Mas digam-me as coisas como são [Não vou ficar a decifrar-vos]! Não é muito o que se precisa para tomar-se uma atitude ética ou sublime, na realidade é a única coisa que faz sentido; estamos todos desprotegidos. Desculpem-me ironizar-vos, enquanto precisarem discutir a cor do manto da divindade tal, ou o beltrano que ofereceu-te a panaceia da vez, vestir mil cores e homenagens ao Amor (que nunca defendeu melhor todas as desculpas do mundo) ou outras mentiras confortáveis ou fantasias fugidias, nada quero convosco. Eu, pessoalmente, vou seguindo o caminho teimoso. Viver a vida à serio em todos os seus contrastes, crueldades, injustiças e loucuras, sem aderir a qualquer coisa que não me faça jus ao interesse próprio e construir um conhecimento sólido, sincero e útil - sem soar-me bonzinho ou cínico demais. Se a vida que me é estranha não vos assombra, posso entender, mas se insistirem a tingi-la de cores que não as vejo e dizer-me que preciso ignorar tudo aquilo que é feio; isso não. Vá lá, se vocês conseguem entender que é preciso algum sentido superior em que possamos nos amparar, não é sensato acreditar que mesmo todo o mal aparente não tenha alguma explicação racional, acessível e humana?

... Sou velho demais para pensar em transcendências, metafísicas e objetivos/subjetivos terceiros, desculpem-me o insulto; eu quero resolver a vida, a minha! Em totalidade sem distinção de espírito e matéria; que coisa tola de chamarem-me os racionalistas, ultrarromântico, e os sensíveis crônicos, niilista.

... Se houvesse uma divindade, chamaria-a inspiração [¿inspirado por quem?], afinal pensar com saúde as coisas úteis e profundas da vida é, acima de tudo, um golpe de sorte.

Hernâni Arriscado - Radicalismo Antideal

Hernán I de Ariscadian
Enviado por Hernán I de Ariscadian em 06/05/2017
Reeditado em 06/05/2017
Código do texto: T5990920
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