SENSATEZ NA OUSADIA
Quando deixamos a ansiedade tomar conta de nossas vidas e invadir o nosso ser com um ímpeto incessante e incontrolável, ficamos ainda mais vulneráveis às frustrações que o mundo está repleto. Em razão de querermos antecipar uma busca que demanda vagorosa construção e silenciosa perseverança, nos tornamos inconsequentes e sem qualquer responsabilidade. Mas, então, porque não lutarmos para nos libertar de tudo o que nos falseia, vivendo a margem das normas a serem seguidas por um aparato social que confisca a verdade e a dignidade do ser humano na sua singela busca de ser si mesmo? Porque não deixarmos de lado, e desprezando até onde possamos alcançar (com toda nossa capacidade de vivermos sem as deformidades das etiquetas sociais), aquela ânsia vã por status social e a ilusão de um dia sermos amados, principalmente por aqueles que nem sabem o que é ter consideração pelo outro, indivíduos desacostumados a aventura do diálogo desinteressado? Há horizontes que nunca se abrem... e há luzes que nunca resplandecem no vigor de uma existencia, mostrando, com isso, ter sido pouco valioso o sentido de seu existir... Pois há no ser de alguns indivíduos a ausência dos valores mais autênticos, tendo como consequência a existência do desespero capaz de limitar o alcance do voo, em vez de se expandirem vitoriosos através de uma consciência mais plena acerca de sua própria existência. Há seres que, ao ficarem desprovidos da arte da sabedoria, se perdem em rumos mal definidos, vagueando a esmo por trilhas escuras e sinuosas. Há, de fato, na ousadia da vida autêntica uma sensatez que lhe é inerente, de modo que as frustrações e as fatalidades da vida são apenas oportunidades de apelo ao Divino e ao que há de mais sagrado na vida. Pessoas que vivem nessas condições, geralmente, se abrem para a fortaleza da esperança e da serenidade, fazendo com que emerja do seu ser um fervor profundo e abrasante.