A Longa Expectativa de Jacob Boehme
O jovem Jacob Boehme, aprendiz de sapateiro, nasceu em 1575 no pequeno povoado alemão da Antiga Seidenburg. No início do século XVII, ele trabalhava com afinco na sapataria do seu mestre, sem imaginar que uma grande transformação ocorreria em sua vida, que o tornaria o maior Teósofo dos últimos quatro séculos. Viveu apenas 49 anos, deixando-nos o maior e mais profundo acervo teosófico dos últimos tempos.
Atualmente, em pleno século XXI, muitas pessoas ainda não conhecem a palavra Teosofia (Theosophia na origem), que significa sabedoria divina, cujo desenvolvimento ocorre somente através de inspirações (revelações) espirituais. Esse desconhecimento se explica, pois o seu surgimento e a sua evolução é pessoal, intransferível, e ocorre sem nenhuma dependência da vontade do Ser Humano, o que a torna incompatível com os eternos interesses comerciais, que orientam as atividades humanas. Isso esclarece porque as denominações teológicas explosivamente se desenvolveram baseadas na Teologia, pois o “logos” (da lógica, do raciocínio) é propriedade intrínseca do voraz Homo Habilis, o que não ocorre com o “sophos” (da sabedoria).
A Teologia se distancia da Teosofia, que é inacessível aos sofismas e não pode ser comercializada. Somente na Teosofia está o maior privilégio que o homem pode obter, por concessão; o novo nascimento, produzido, unicamente, pela Misericórdia do Pai, pelo Amor e pela Graça do Filho na Unção e Comunhão do Espírito Santo. Esse é o verdadeiro Batismo na “Água Viva” do Filho e no “Fogo” do Espírito Santo, e é o “passaporte da salvação”, sem o qual, ninguém entra na “Terra Prometida”. O novo nascimento faz conexão com as potencialidades imanentes do homem, as espirituais e as racionais, que emergem vigorosamente, passando a se refletir nos dons e vocações, que surgem como fontes do “pão da vida” e da “água viva”. É de fundamental importância compreender que o novo nascimento é o resultado do batismo na “água viva” de Cristo e no “fogo” do Espírito Santo. O batismo praticado por João Batista é o batismo simbólico, que, portanto, vale apenas como um símbolo. Quando Cristo foi “batizado”, João Batista sabia que esse “batismo” era absolutamente desnecessário para Cristo, mas Este se submeteu a ele, apenas como um gesto de respeito ao costume ou tradição, sendo imediatamente, batizado pelo Espírito Santo. (Mateus 3;13ª17) Nesse momento, expirava a validade simbólica do batismo de Batista, substituído pelo Batismo da Graça. Assim, tanto o decálogo da Lei mosaica como o batismo de João Batista, são abolidos pela Graça de Cristo, que nos homens se concretiza no novo nascimento. (João 3;3,5,6,7) A Lei, é válida somente para Jacó, que continua se alimentando do leite, e não mais para Israel, cuja alimentação se baseia no alimento sólido. Israel é a evolução espiritual de Jacó. É preciso que Jacó diminua, e que Israel cresça progressivamente (João 3;25 a 30) e que, ouvindo a voz do noivo se diga: “Pois esta alegria já se cumpriu em mim” .
Vejamos a seguir, alguns textos bíblicos, e também o texto de C. S. Lewis, que devem ser cuidadosamente examinados, por aqueles que estão dispostos a entender por si mesmos, sem intermediações maliciosas, como se obtém o verdadeiro conhecimento de Deus.
Romanos 9;11- E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama).
Jeremias 1;5- Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses da madre, te consagrei e te constituí profeta às nações.
Jeremias 10;23- Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos.
João 15;16- Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros, e vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça; (...)
Efésios 2;8- Porque pela graça sois salvos por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus. 9- Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Gálatas 1:15,16 – Quando Deus, porém, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça, se agradou em revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei ninguém.
Salmos 139:16 – Ainda embrião, teus olhos me viram e tudo estava escrito no teu livro; meus dias estavam marcados antes que chegasse o primeiro.
Mateus 11;27- Todas as coisas me foram entregues por meu Pai; e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
“Quando se trata de conhecer a Deus, toda a iniciativa depende d’Ele. Se Ele não quiser se revelar, nada do que façamos nos permitirá encontrá-lo.” (C. S. Lewis)
Baseando-se nos textos acima expostos, cabem duas lógicas perguntas, submetidas aos Leitores para que tirem as suas próprias conclusões: “Para que servem as denominações teológicas? Qual é a sua finalidade?”
Quanto ao jovem sapateiro Boehme, este se viu, repentinamente, envolvido por uma avalanche de conhecimentos espirituais, que se desenvolveram ao longo do tempo, e não tendo como transmiti-los, passou a “ruminar” no seu intelecto, procurando ordená-los, de forma que se tornassem mais compreensíveis para si mesmo. Nesse estado de meditação e contemplação, Boehme permaneceu por doze anos, acumulando e ordenando as ininterruptas revelações que inundavam o seu humilde intelecto, aguardando com toda paciência o momento de exteriorizá-las, na medida das suas potencialidades intelectuais. Em seguida, Boehme começou a escrever, ordenando e registrando suas percepções espirituais para si próprio, como ele mesmo disse, dando origem a uma vasta obra literária, que avançou no tempo, constituindo-se no alicerce da Theosophia exposta para os Seres Humanos, sobre cujo alicerce outros Teósofos se basearam, para confirmar e nortear as suas próprias inspirações, amparados na sua vastidão, porém sem nada lhe acrescentar. Os acréscimos deveriam vir com a evolução, no final dos tempos, conforme os desígnios do Senhor, no cumprimento da promessa de que tudo seria revelado. (Mateus 10:26)
Boehme tinha consciência das dificuldades que outras pessoas teriam para a compreensão dos seus escritos, por isso ele escreveu a obra “A Chave”, um pequeno resumo das principais ideias do seu sistema teosófico, cuja obra poderá ser baixada como download na Internet.
Surgiram muitos adeptos do sistema de Boehme, porém, como a Teosofia não possibilita a exploração comercial, as suas ideias não se expandiram, como ocorreu com a caótica ladainha dos Teólogos incrustados na Teologia, que busca o conhecimento de Deus através do raciocínio lógico, dando origem às denominações teológicas, verdadeiros “supermercados da fé” que permanecem o tempo todo circulando sobre os princípios elementares da doutrina Cristã, ou seja, circunscritos na Primeira Aliança, no ministério da morte, rodopiando como os insetos ao redor da Luz, sem penetrá-la, e cobrando “pedágio” das “ovelhas” mais humildes, no suposto caminho para o céu.
A Doutrina da Graça, o fulcro da Reforma, a espada de Lutero, foi logo descartada pelos reformistas, que copiaram o modelo teológico da denominação pioneira, e como aquela, alicerçaram-se também na Primeira Aliança, na Lei, nas fábulas, histórias e genealogias, mesclando-as com diversas outras atividades seculares, cujo pacote garante o seu desenvolvimento material. Demitiram os “santos” (com razão), suprimiram os livros “Sabedoria” e “Eclesiástico” da Bíblia (sem razão) e cuidaram apenas de manter algumas diferenças meramente operacionais, para mascarar a absoluta semelhança entre elas. Em razão de tudo isso, muitos Cristãos mudam constantemente de denominação, tentando compreender o verdadeiro fundamento da doutrina Cristã, e desiludidos, acabam se incorporando ao contingente dos céticos, insatisfeitos com as sonolentas cantilenas sobre o óbvio e sobre os princípios elementares do conhecimento de Deus. Os textos bíblicos Mateus 23:1 a 39, Marcos 12:38 a 40 e Lucas 20:45 a 47, são carapuças que os escribas e fariseus gostariam muito de suprimir da Bíblia. Descuido da Escolástica e dos reformistas? Aliás, já existe Bíblia sem o versículo 14 de Mateus 23. Por que será?
Mateus 23:14 – Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Porque devorais as casas das viúvas, fazendo para disfarçar, longas orações; por isso recebereis uma condenação muito maior.
Enquanto as denominações teológicas prosperavam de forma exponencial, mas com exclusividade no mundo material, surgiram instituições voltadas para os estudos relativos à Teosofia, mas optaram pelo sistema esotérico e não pelo exotérico, dando preferência ao hermetismo, no estilo medieval, com os estudos circunscritos aos domínios dessas instituições, mantendo uma postura passiva, aguardando pela iniciativa espontânea dos possíveis interessados no aprofundamento teosófico. Essa postura se ajusta ao decálogo de Moisés, substituído pela Segunda Aliança, mantendo-se na superfície, sem penetrar na substância, na Graça de Jesus Cristo. Elas deveriam observar Mateus 10:26,27, e desde que detenham efetivamente revelações espirituais, manifestá-las publicamente, na forma de ensinamentos colocados à disposição de todos.
Com toda certeza, os Leitores notaram, que o maior volume do conhecimento de Deus alcançado por um Ser Humano, ao menos nos últimos quatro séculos, foi conferido a um simples e humilde sapateiro! Não, não é obra do acaso, basta que examinem na Bíblia o texto: I Coríntios 1:18 a 31. Mas o sapateiro não ficou encantado consigo mesmo, não se cobriu de glória e tampouco mercadejou o tesouro que recebeu. Ao contrário, produziu a sua extensa obra, sofreu a injusta perseguição dos falsos cristãos e viveu na mesma simplicidade até o fim da sua vida. Ele suportou serenamente a solidão de ser o único a possuir o maior volume de conhecimentos teosóficos, que, no entanto, não podiam ser inteiramente compreendidos por ninguém. (I Cor.2:14,15) Aliás, ninguém conseguiu, até hoje, a total compreensão do sistema teosófico de Jacob Boehme, assim como ele também não conseguiu expressar tudo o que recebeu, como ele mesmo afirma, talvez também pelo que se observa em (II Coríntios 12:4 a 10).
As evidências indicam que estamos no derradeiro estágio da evolução, não havendo, portanto tempo a perder. Os conhecimentos de nada servem se não forem colocados à disposição das pessoas, para que sejam utilizados. Os Profetas primitivos distribuíam os seus conhecimentos tanto aos da circuncisão (os hebreus), sob a liderança de Pedro, como aos incircuncisos (os gentios), mediante a liderança de Paulo, e o faziam com todos os sacrifícios e os riscos da sua época, sem remuneração, sem regulamentos, sem aparatos, sem solenidades teatrais e sem a ostentação dos templos luxuosos.
Na atualidade, a tarefa de semear os conhecimentos é mais tranquila e praticamente sem maiores riscos, com eficientes e amplos meios de comunicação. Assim como os Profetas primitivos e como Jacob Boehme, devemos todos nos empenhar no sentido de promover o intercâmbio de conhecimentos, sejam os espirituais, sejam os racionais, conforme as potencialidades, os dons e as vocações de cada um, todos dando a sua contribuição para a nossa mútua e coletiva evolução. A obtenção do conhecimento, entretanto, depende do empenho e da argúcia de quem o procura, pois até nos rejeitos se pode encontrar algo que tenha alguma utilidade. Isso explica porque o Apóstolo Paulo tinha certa tolerância para com os escribas e fariseus, pois como se sabe, até sobre pedras nascem flores.
Entretanto, às vezes observa-se a tentativa de misturar água e óleo, uma tarefa difícil de ser bem sucedida. Isso acontece, por exemplo, quando se pretende associar, numa fusão, o “logos” com o “sophos”, o conhecimento racional com a sabedoria, ou a razão com o espírito. Com esse propósito, surgiu na Argentina em 1930 a logosofia, com a intenção de demonstrar a produção da sabedoria por intermédio da racionalidade, o que é impossível, pois mesmo no Cristão nascido de novo, convivem numa batalha ininterrupta, o Bem e o Mal, o que exclui definitivamente a existência do Homo Sapiens. (Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne. Eles se opõem um ao outro, de modo que não conseguis fazer o que quereis. Gálatas 5:17). Devemos compreender que as Trevas e a Luz estão uma na outra, mas jamais se mostram em conjunto. A racionalidade (logos) exibe as suas qualidades intelectuais na administração do Planeta Terra... Parece-nos que o nosso Planeta, e nós, os seus habitantes, estamos com muitos problemas, há muito tempo, não é mesmo?
Assim, a maior dificuldade a ser transposta, é o grande apego às regalias do mundo material e o paradoxal afastamento do mundo espiritual, com o agravamento oriundo dos péssimos exemplos da administração pública e também das próprias denominações teológicas, ao longo da história da Humanidade e mesmo nos tempos atuais. Temos, porém, a nítida impressão de que entramos numa etapa de definições, onde cada um está assumindo a sua verdadeira posição: ou frio ou quente, notando-se que até os mornos estão exibindo a sua verdadeira identidade. (Apocalipse 3:15,16) Essas definições, mais acentuadas neste estágio da evolução, e que estão ocorrendo em todo o Planeta, cujos sintomas são a explosão da violência de um lado, e um derramamento espiritual mais notável de outro lado, com reflexos muito mais visíveis na expansão do mal, estão provocando o “genocídio” dos valores éticos e morais. Prestando a devida atenção, poderemos notar que isto está ocorrendo, também, bem próximo de nós. Que venha o derramamento espiritual, mas muito cuidado com o “inimigo”, pois ele está sempre nos rondando, ávido para nos conquistar.
Aos pacientes Leitores, fica a sugestão para que pesquisem e estudem as obras de Jacob Boehme, C. S. Lewis, Francis Collins, e os Profetas bíblicos. A todos os Leitores uma auspiciosa e fecunda jornada na turbulenta travessia da Vida. Que Deus os abençoe.