Papel.
Somos papéis em branco. Nos preenchemos com nossas próprias letras tortas. Nos desenhamos em nós mesmos sem espelhos... sem referências externas... Sem esboços. Temos uma página. Somente uma página para escrevermos toda nossa história. Com a ponta ressecada de nossa própria pena, nos rasgamos... Arde. Inflama. Mas não podemos jogá-la fora. Essa é única página. Com alguns adesivos velhos, já sem aderência, nos colamos. Dá trabalho. É demorado, mas cola. E continuamos a escrever. Por vezes, temos que riscar toda uma cena e reescrevê-la. As vezes a cena sai feia e toda borrada, mas aquela é a cena. Feia e imperfeita do jeito que é. Não são necessários corretivos. E aliás, eles são ineficazes. Essa é a parte em que choramos e nos molhamos. E com as lágrimas que caem na folha, nos fragilizamos. Mas, veja! É o varal, e o Sol está aí. E, dentre tantas outras coisas, a Terra não parou de girar. Pendure-se para secar e enrijecer-se. Ficará difícil, após repetir e sse ciclo infinitas vezes, continuar a escrever. A folha estará ressecada e resistente à novas escrituras. Novas ideias parecem tão erradas... E esse papel... Já está tão velho para ser usado... Mas o que importa mesmo, não são as provações que o papel passou... Mais importante que isso, é, e sempre foi, a mão do inscritor, que aprendeu a intensidade certa, e escreveria até em pedras.