Cores

Eu colori as suas palavras cuspidas com raiva só pra não doer em mim.

Mas doeu.

Normalmente, o que tem cor me agrega a vida. Colori com as cores mais vibrantes só pra eu não sentir aquilo me espetar como uma injeção que se toma quando se é criança.

"Não dói nada", a enfermeira sempre dizia.

Mas doeu.

Você sempre dizia com o deleito pesando entre seus dedos ao meu dirigir as seguintes palavras:

Eu tô aqui.

Mas você cansou. Você disse que está cansada e quase te senti como se estivesse.

Mas no fim, é isso que sempre acontece, né? As pessoas cansam. As pessoas não estão mais aqui.

Eu sei.

Mas doeu.

Emoldurei as suas palavras, coloquei-as num quadro maciço para que não houvesse mais como te preencher em mim.

As cores sumiram.

Você sumiu.

Eu tô aqui.

Mas você não. Você estava predestinada a ir, ainda que não soubesse. Nós tínhamos um tempo estipulado, consegue ver?

E doeu.

Ainda dói.

Danifico e concretizo sua raiva em mim.