AS ILUSÕES DOS HOMENS INÍQUOS

Num mundo infestado de homens poderosos que se destroem mutuamente, o que podemos esperar senão miséria, desolação e aniquilação dos recursos procedentes da natureza? Num mundo repleto de homens cheios de presunção, megalomania e narcisismo (homens que são profundamente dominados pela ganância e pela ambição de serem como ''deuses''), o que esperar senão o fracasso da civilização, rumo a derrocada dos valores mais nobres e ao vazio da ausência absoluta de sentido na vida? As guerras, com efeito, são tão antigas quanto a história da civilização; aliás, a civilização só se tornou como é hoje através das guerras, das explorações sistemáticas dos recursos naturais, da escravização do homem pelo homem e do domínio desenfreado dos ''poderosos'' sobre toda forma de ser vivente. Todavia, em nossa era abundante em tecnologia e criações humanas, as guerras se tornam ainda mais autodestrutivas, de tal maneira que os demais seres vivos ficam ameaçados de aniquilação, pois a todo momento são desrespeitados no seu direito à vida. Através da fantasia absurda (mesmo inconsciente) de serem como ''deuses'', há indivíduos que, incapazes para o dom do amor e da compaixão, se tornam capazes de cometerem as maiores monstruosidades e os crimes mais hediondos testemunhados, irradiando do seu ser a imundície da cobiça, da vingança e da morte. No século XX, enquanto Hitler buscou conquistar nações inteiras e exterminar Judeus, poloneses, ciganos e homossexuais em campos de concentração, Stalin (ainda mais nocivo e cruel) não apenas destruiu a vida de quem se opunha ao seu regime (empunhando a bandeira do comunismo com mãos de ferro), como também permitiu que o povo que vivia sob seu domínio (ucranianos, russos, bielorrussos, entre outros) perecesse em absoluta miséria e desesperança, não somente em decorrência da fome, como também em decorrência de uma ideologia que nega a vida, o amor e a Deus. Nos dias de hoje, as guerras, as fomes, a falta de sentido na vida, as contendas entre grupos étnicos, o ódio entre pessoas que professam diferentes credos e doutrinas, e, por fim, as barbáries de violência que permeiam as civilizações, continuam fazendo suas vítimas e tirando do coração dos homens qualquer sonho de uma vida livre e habitada pelo amor. Há, de fato, inúmeros homens que buscam ter imenso poder; e, ainda, se tornarem ''senhores absolutos'' do cosmos e da natureza. No entanto, esqueceram (ou fingem não lembrar) que o que dignifica a vida de um ser humano não é o que este ostenta, tampouco o seu poder irrestrito de consumo e de tomar grandes decisões; mas sim a humildade para reconhecerem que sem amor, não são absolutamente nada (ou como dizia Pascal, um mero caniço pensante). As ilusões dos homens iníquos se tornam enraizadas quando acreditam que são maiores do que são na realidade, impelindo-os, portanto, a uma verdadeira ruína de seu mísero ser. Uma vez que os valores estão invertidos justamente para distinguir aqueles que são verdadeiros filhos da luz (os filhos genuínos que amam verdadeiramente a Deus) daqueles que decidiram viver como súditos da iniquidade, muitos ainda preferem se iludir ao agirem como se as demonstrações de presunção, altivez e dominação pudessem torna-los fortes e poderosos. Para ser sincero, penso que dificilmente os corações dos homens iníquos dotados de grande poderio serão transformados, na medida em que a ânsia desenfreada pelo poder e o culto a si mesmos criaram suas raízes, prevalecendo uma abissal propensão à perversidade, em vez de uma singela propensão à caridade e à justiça.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 26/04/2017
Reeditado em 27/04/2017
Código do texto: T5981726
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