Reflexo

Escovei os longos e grossos fios de cabelo, me olhei no espelho e senti falta dá menina meiga que vez ou outra eu via a tempos atrás. Sem pensar muito, levemente trancei o cabelo e peguei uma das minhas fitas, hoje em dia quase esquecidas na caixa de madeira, usei a mesma preta para não perder o costume amarrando ao topo da cabeça. Eu sorri, não de felicidade, mas de alívio, por entender que a menina que um dia viveu nessa mesma casa ainda não havia se esgotado, aliviada por ainda poder ser eu mesma, nem que seja por frações de segundos. Fiquei aliviada por ainda me enxergar em meio ao caos que a vida foi se tornando. Não​ reclamo desse tumulto todo, eu me acho nessa bagunça, eu enxergo mais com os olhos fechados e escuto mais quando não há som algum.

Me proporcionei alguns minutos em frente ao espelho, ignorando o resto dá imagem que refletia meu corpo, em um breve momento achei realmente meus olhos encantadores, desviei o olhar e retornando a olhar para meu reflexo, já não era mais a menina, vi o cabelo bagunçado, as olheiras e marcas no rosto, já não ignorei mais o resto do reflexo e achei melhor guardar aquela faixa. Deixei a trança, não consigo me desfazer de tudo, uma foto tirada pra não deixar se perder, e ouço minha filha vindo correndo pelos corredores e gritando por mim, abaixo perto dela e ouço ela dizer enquanto bagunça meu cabelo... ' eu gostei, parece uma rapunzel'.

Eu não precisava de espelho, aqueles olhos pequenos e aquele sorrisinho sincero, me faziam enxergar mais do que qualquer reflexo.