O poeta
Aos poucos fui notando que não existia mais. Minha vida tinha se tornado oito ou nove quilômetros por dia, o trajeto de casa para o trabalho, onde eu via outras pessoas, vias os carros passando e quando tinha sorte, a chuva caindo. Aos pouco eu fui notando que se tornava cada vez mais difícil sentar e me concentrar na última coisa que me tornava vivo, escrever. Comecei a revirar os cadernos de escola, e procurar cada frase avulsa que eu já tivesse escrito. Comecei a editar meus textos antigos e dar uma nova roupagem para ideias velhas. Eu não tinha nada de novo a oferecer, a não ser, o desmazelo do cotidiano.
O poeta é um ser medíocre, mesquinho e asqueroso. É um ego dentro de outro ego. O poeta é flagelo, e quer sempre se passar por vitima. O poeta é um mentiroso, arrogante, preguiçoso. Aos poucos eu fui me aceitando como um poeta, um medíocre escritor de garagem.