CAMINHO

Tenho em mim a realidade constante de saber que estou vivendo num mundo que, aparentemente, só eu sei que ele existe.

Vou, constantemente... Ao observar-me, percebo a essência de como é, realmente, ser eu, enquanto sou outro. É até estranho entender que posso viver, tão bem, as coisas que, acho que não vivo, só por não acreditar que sou eu, verdadeiramente, a vivê-las... Sei que admiro desfrutar das incertezas, pois, lá, elas não são...

Sinto por elas todo o contentamento de quem, sabe que as sente, mesmo não sendo próprias, mas que, por serem suas, sendo você outro, são tão reais e essenciais quanto.

Engraçado é confundir qual mundo é o meu e qual, verdadeiramente, sou eu vivendo, sentindo e observando todas essas coisas...

Às vezes me canso por pensar que existo na consciência de ser eu, só, em outra vida, e que esse mundo nunca muda.

Entretanto, enquanto não canso, chego à conclusão de que, realmente, desfruto das possibilidades de só eu saber dessa existência, mesmo duvidando de que, agora mesmo, seja eu, aqui, vivendo, sentindo e observando quem se acha o principal ser que analisa todas essas reais possibilidades...

Por outro lado, também tenho a impressão de que, ao interagir com outras pessoas, enquanto as olho, fixamente, nos olhos elas percebem que há um caminho e esse outro mundo em mim, no qual me descobrem justamente nele, enquanto estou indo ou voltando...

Fixa-se nos meus e seguem pela mesma estrada que sigo... Considero real a hipótese de que, ao fixar-se em mim, se chega no mesmo mundo que eu, vive-se a mesma realidade que eu, reconhece-me, mesmo não sendo eu, e se torna outra desfrutando comigo de um mundo real que é meu.

Cada vez que alguém volta de mim, e sorri, numa dessas visitas repentinas à esse mundo em que vivo eu, sinto que faz nascer outro de si, e que lá se deixa só por descobrir que, permitir-se a viver assim, é, eternamente bom, nesse mundo que é meu.