O APREÇO PELA VIDA
Basta um instante de vida intensa e bem aproveitada para marcar profundamente nossas vidas, ainda que esses instantes sejam bem passageiros e fugazes, especialmente aqueles momentos que aparentemente se perderam nas ruínas do passado, mas que na verdade se solidificaram em nossa memória (sempre passível de ser constituída pelas mais belas recordações). Quando bem vivido e aproveitado, os vestígios do passado sempre ecoam com cores suaves e alegres, daí a importância de se viver uma existência preenchida de acontecimentos que edifiquem a alma e o ser. Manter sempre uma vida ataviada por experiências inefáveis é uma maneira de nos tornarmos mais plenos. De fato, nos possibilita esperarmos que outros momentos bem aproveitados surgirão novamente como uma espécie de eterno retorno (porém, é imprescindível que vivamos com a consciência de que somos finitos e que só temos essa vida para desenvolvermos nossas potencialidades de maneira digna). Com efeito, uma vida imersa somente na rotina do dia-a-dia não tem sentido; é importante, então, que criemos alternativas para que a vida tenha uma razão de ser, senão corremos o risco de viver como Sísifo: condenado a rolar eternamente uma pedra de mármore nos cumes de uma montanha, num esforço vão e sem sentido. Esse mito mostra o quanto é absurdo levar uma vida imersa na exaustão de um trabalho rotineiro, num trabalho que não dá sequer reconhecimento pelo esforço apresentado. Quem em sã consciência é capaz de se conformar em jornadas de trabalho profundamente fatigantes e, ainda, viver na prisão e na miséria de uma existência entediante e acinzentada? Mesmo assim, milhares de pessoas, na ânsia desesperada pelo reconhecimento, acabam sucumbindo a uma vida desprovida de qualquer sentido e finalidade, apesar de acreditarem que vivem uma existência plena. E tudo isso em nome do que? Em prol de qual promessa venderam sua liberdade? Talvez (mesmo desprovidos de consciência plena) em nome de uma ideologia que diz que precisamos de nosso esforço para sermos reconhecidos como tal! Mas o que muitos não entendem é que nunca serão reconhecidos pelos seus esforços enquanto estiverem alienados a todo um aparato fraudulento que vende descaradamente suas ilusões! Cada um por si só deve buscar uma finalidade para sua existência, mas para isso é preciso se perguntar se valeu cada instante perdido no absurdo de uma vida paralisada no impessoal e numa jornada de tantas tarefas rotineiras e desgastantes. Sem a atitude de questionamento e de busca incessante pela própria dignidade e liberdade, seremos apenas uma vida perdida em miragens! Enquanto houver homens desprovidos de senso crítico e discernimento, haverá escravidão, ainda que seja de maneira sutil e imperceptível.