Alguém aceita uma xícara?
Todos os dias, eu teimo em arrumar os espaços que me cabem. Sempre acredito num grande dia. Ponho aquele sorriso na cara e começo mais um dia.
Ao acordar, arrumo os compartimentos da casa. Por sinal, continua no mesmo endereço e no lugarzinho de sempre. Talvez os móveis mudem de lugar. É sempre bom fazer esse tipo de mudança.
Levemente, eu abro todas as portas, as janelas e o portão que fica bem no ladinho direito. Precisa apertar a campainha ou clap clap das mãos? Não. Tudo está aberto. O sol já entrou; o céu azul faz quadros vivos e o vento amacia todos os espaços. É bonito deixar o caminho aberto para todos.
Depois disso, eu vou para cozinha e preparo aquele prato. O cheio está bom. Fascinante. Coloco sob a mesa impecavelmente arrumada. Os pratos e talheres? Deixo em várias quantidades. De quebra, faço aquela sobremesa gostosa. Talvez seja o meu ponto forte. Não satisfeita, já preparo o lanche. Ponho para fever no fogo. Melhor deixar uns 30 minutos. Enquanto isso, faço delicadamente e feliz o lanchinho. Pela cara, vai ficar uma delícia. Coloco no forno. Deixo uns 15 ou 20 minutinhos.
Enquanto isso, eu cuidar do jardim. Ah, como continuam lindas. Rosas e camélias são as minhas favoritas. As outras, são as cerejas do bolo. São lindas também. Gosto de cultivar em casa e - volta e meia - troco uns dedos de prosa com elas. As flores sabem o que sentimos. Um toque ali e uma águinha aqui... Pronto! Elas estão arrumadas.
O lanche já está pronto. Eu sinto aquele cheiro me chamando. Vou correndo lá para poder servir na outra mesa. Fecho os meus olhos e me vem aquela vontade de comer. Não posso! Tenho que deixar tudo arrumado.
Nos últimos detalhes, sempre dou aquela revistada básica. Vou à varanda e vejo todos os movimentos. São rápidos, eu sei, mas consigo colocar em câmera lenta. Aprecio melhor. Deixa eu voltar ver como está a casa.
Móveis no lugar; comidas postas a mesa; portas, janelas e o portão abertos; os outras partes estão ordem. Agora sim posso esperar entrar.
Por que não adentra meus espaços? Por que não toca a campainha? Nem ouço nem o clap clap das mãos. Quanto mais aquele grito: "oh de casa". Por que não provas as comidas? Não queres mais aproveitar os móveis? Não te vejo mais trocar a prosa comigo e com as flores, por quê? Nada entra e nem o ninguém. Fico esperando. Paira o questionamento: por que não entras? A resposta é simples, curta e sem rodeios: não quer mais. Apenas passa pela frente, mas não pronuncia um "oi". Bom... Alguém aceita uma xícara?