Amargos
Há um tipo de pessoa feita para um único e exclusivo objetivo: atrasar a humanidade. Esse espécime faz o impossível para atrapalhar alguém com intenções boas e produtivas. Dedicam-se arduamente à tarefa de desmotivação coletiva dos seus iguais, e treinam com afinco a arte de expelir opiniões nocivas em um contexto não lhes oferecido. Carregam o mal hasteado como a bandeira da salvação, e, tal qual os inquisidores da Idade Média, queimam - figurativa e literalmente - todos os opositores à propagação do ódio.
Não conseguem realizar sonhos próprios e preferem ver o mundo afundar pelo erro do outro a colaborar para algo realmente transformador. Apontam, acusam, conspiram e se vêm alvo de conspirações. Massacram, judiam, dizimam personalidades apenas para não olhar dentro de si mesmo e ver o quão ruins e dispensáveis são.
Se todas essas pessoas descessem as máscaras, veríamos apenas as mazelas mostrados à exaustão nos noticiários. Todas as mortes, roubos, furtos, desacatos, agressões - verbais ou físicas -, ridicularizações e xingamentos nascidos dos pensamentos desses seres incapazes de empatia ou qualquer outro sentimento de aproximação à realidade do outro. Não sabem - ou sabem e fazem propositalmente - o quanto suas palavras contribuem para a formação de um mundo esdrúxulo, baseado no “eu bem e você mal”.
Por vezes, um simples bom dia pode transformar o humor de alguém com quem cruzamos em nossos caminhos. Um sorriso dentro do ônibus, um ‘obrigado’ a alguém que se prontificou em nos atender ou mesmo um aceno de cabeça é capaz de melhorar nossa breve passagem por esta terra inóspita. Quiçá algum dia inventem um escrotômetro. O mecanismo seria simples: seriam contabilizadas num painel todas as ocasiões nas quais ferimos o sentimento de alguém. E lá ficam à mostra para que nos envergonhemos a cada minuto pelo mal causado ao próximo.
Felizes aqueles capazes de se mirar no espelho e ver quais atitudes devem corrigir. Saber trabalhar os nossos defeitos é - muito mais que a sapiência de aprimorar nossas virtudes - o ponto mais alto da existência humana. Sem empatia e coletividade não há ser humano. Há apenas um selvagem à procura da satisfação de suas necessidades, sem considerar o coletivo. Se vemos o mundo pelas nossas projeções, o que temos de bom num ambiente tão ruim?
Talvez humanidade, hoje, tenha efeitos de ofensa.