Orando com Alegria

GRATIDÃO

O Apóstolo Paulo começa sua Epístola aos Filipenses, após a saudação inicial, com uma ação de graças por tudo que se recordava sobre os filipenses (v. 3-5). Paulo diz que fazia súplicas sempre que se lembrava dos filipenses. A oração é um remédio eficiente contra a tristeza porque a gente pode usar dele em qualquer lugar, em qualquer situação. Basta nós termos condições mentais de elevar os nossos pensamentos a Deus, por pior que estejam as condições dos nossos corpos, e isso pode se tornar uma oportunidade de nos enchermos de alegria.

Gratidão e felicidade estão muitos ligados, de modo que associar a gratidão à oração vai fazer da nossa súplica algo feliz. A Bíblia diz que “bom é render graças ao SENHOR” (Sl 92.1). A neurociência - ciência que estuda o cérebro e o sistema nervoso em geral - confirma isso. Estudando o cérebro, os cientistas descobriram que gratidão, como outras emoções, ativa o sistema de recompensa e prazer do cérebro [1]. Ou seja, nosso cérebro foi projetado por Deus para nos fazer ficar alegres quando nos sentimos gratos.

Por isso, quando formos orar, devemos nos lembrar de todas as coisas boas que Deus já nos deu no passado, através de orações ou não, e orarmos com alegria, não apenas agradecendo por essas coisas, mas com a certeza de que Deus é bom, e Ele ouvirá nossas preces. E o contrário também, sempre que recebemos grandes bençãos de Deus, devemos nos lembrar de agradecer ao Senhor, com alegria, e lembrar de pedir a Ele aquelas coisas que nós ainda não recebemos.

Isso porque glorificar a Deus não se trata, principalmente, de algo para Ele, mas muito mais de receber[2]. Deus não precisa do que nós possamos Lhe dar, nós precisamos Dele. Deus não ganha nada de nós que não possa conseguir de outros modos quando nós O glorificamos, mas nós ganhamos tudo. Por isso Deus é muito mais honrado quando nos apresentamos diante Dele de mãos vazias, com súplicas pelas suas bençãos, do que nos esforçando achando que Ele precisa de nós, pois nisso Deus se manifesta como o grande doador de todo o bem.

Pedirmos coisas a Deus é importante justamente porque glorificar a Deus se trata muito mais de ser servido por Ele do que de servi-lo. Sim, nós somos servos de Jesus Cristo, como diz o primeiro versículo de Filipenses, mas precisamos entender do que isso se trata. Sermos servos de Deus não significa que nós vivemos para atender as necessidades Dele, porque Ele não tem necessidade alguma. Servir a Deus é viver para glorificá-lo, ou seja, viver para demonstrar quem Deus é. E uma das principais maneiras de demonstrar quem Deus é sendo servidos por Ele.

Pode ser difícil para nós entendermos isso em um primeiro momento, porque estamos acostumados com a lógica religiosa de dar algo para Deus para Ele nos abençoar de volta. Mas a Bíblia fala muito a respeito do fato de que Deus quer que nós nos apresentemos diante Dele como aquele que pede porque isso honra a Deus. O Senhor nos ordena isso, em Salmos 50.15, por exemplo: "invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás". Atos 17.24-25 deixa bem claro que a grande diferença entre o Deus verdadeiro e os falsos deuses é que Ele NÃO É SERVIDO POR MÃOS HUMANAS, como se precisasse de alguma coisa, pois é Ele mesmo que nos dá todas as coisas.

Precisamos nos lembrar disso para nos despertar a gratidão. Toda a nossa obediência a Deus não é nada comparado àquilo que Ele nos dá. Se você serve ao Eterno achando que Ele precisa de você para qualquer coisa você não o está honrando, ao contrário, está desonrando-o. Desde a antigüidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além do Deus verdadeiro que trabalha para aquele que nele espera (Isaías 64.4). Todos os outros deuses se exaltam apenas querendo que os homens façam o que eles mandam. Mas o Deus verdadeiro é exaltado especialmente quando Ele nos dá aquilo que nós precisamos. E Deus amou o mundo de tal maneira que Deus o Seu Filho unigênito para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Deus se agrada mais de pessoas que são gratas do que de pessoas que querem trabalhar para Ele. O Evangelho não é um anuncio de um Deus fraco que precisa de nós para fazer a Sua obra, mas um chamado para que nós paremos de trabalhar, para que nós abandonemos as nossas cargas, e deixemos que Deus carregue todo o peso que nós temos para nós. Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.

COMUNHÃO

Se a gratidão não for suficiente para te alegrar, outra motivação é orarmos juntos e uns pelos outros. Paulo diz no verso 3 que dava graças por tudo que se lembrava na vida dos filipenses, e no versículo 5 explica: "pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora". A palavra traduzida como "cooperação" podia ser traduzida como comunhão, companheirismo. O Evangelho unia diferentes tipos de pessoas, o pobre e o rico, o senhor e o escravo, homens e mulheres, jovens e velhos, todos os tipos de pessoas eram unidos por causa da fé comum em Jesus Cristo.

No versículo 1 há um detalhe que vale a pena mencionar. Paulo destaca, entre aqueles a quem está enviando a epístola, os "bispos e diáconos que vivem em Filipos". Mais tarde a palavra "bispo" ganha outro significado, geralmente uma pessoa que é o supervisor de uma igreja ou de várias igrejas. Mas no Novo Testamento a palavra "bispo" é geralmente usada como sinônimo de presbíteros (por exemplo em Atos 20 e Tito 1). Ou seja, a igreja de Filipos, como as outras igrejas no início, não tinham um homem só que liderava a comunidade, mas eram vários homens em um conselho, que eram chamados de bispos, ou presbíteros, ou guias, não importa. O importante é que não era um homem só cuidando da igreja, mas um grupo. Pouco tempo mais tarde passou a ter uma figura principal que era o presbítero principal, ou bispo, mas no princípio a igreja entendia que a liderança não devia ser o papel de um homem só, mas de um grupo. Até mesmo entre os apóstolos havia isso: Jesus não estabeleceu um Papa que supervisionasse toda a igreja, mas levantou um corpo apostólico, doze homens, que fariam isso.

Isso é importante porque dividir as nossas cargas, as nossas dificuldades, é fundamental para a manutenção da nossa alegria, principalmente se você tem algum papel de liderança. Muitos pastores ficam doentes e se suicidam porque tentam suportar todo o fardo sozinhos. Precisamos sim colocar as nossas dificuldades, os nossos fardos, os nossos problemas, nas mãos de Deus em oração; mas também é necessário que a gente divida essas coisas uns com os outros. Porque Deus nunca pretendeu que o nosso relacionamento com Ele substituísse o nosso relacionamento entre irmãos. "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados" (Tiago 5.16).

ESPERANÇA

Se o que o Deus fez no passado e faz no presente não for suficiente para nós, ainda podemos olhar para o futuro com esperança e nos alegrar nisso. Paulo diz no versículo 4 que sempre fazia súplicas pelos Filipenses, mas diz no versículo 6 que tinha certeza que aquele que começou a boa obra iria levá-la até o fim. Ou seja, Paulo tinha certeza que Deus responderia à oração dele, por isso orava com alegria.

Há mais duas verdades que precisamos ter em mente. Primeiro, as nossas orações não mudam a vontade de Deus. Segundo, as nossas orações fazem as coisas acontecerem. Podem parecer coisas opostas, mas são duas verdades bíblicas. Preste atenção, Paulo fazia súplicas pelos Filipenses, mas ao mesmo tempo já tinha a certeza que Deus iria completar aquela boa obra que Ele começou. Então Deus não precisava das orações de Paulo. Por que orar, então? Porque Deus faz o que Ele determinou ATRAVÉS das nossas orações.

Nesse sentido a oração faz as coisas acontecerem. A Epístola de Tiago capítulo 4 versículo 2 deixa isso bem claro, quando ela diz: "Nada tendes, porque não pedis". Isso significa que se a gente não pedir a gente pode não ter o que deixou de pedir. Deus não apenas determina tudo o que acontece, mas Ele determina fazer isso POR MEIO das nossas orações, de tal maneira que se nós não orarmos as coisas não acontecem. Sem oração, Deus não iria terminar a obra que Ele começou, mas podemos ter certeza que Ele terminará porque quando Deus começa uma boa obra Ele também faz com que as pessoas orem por ela.

Jesus nos prometeu que tudo o que pedimos que for da vontade de Deus nós receberemos. Em João 16.24 Ele diz: "Até agora nada tendes pedido em meu nome; pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja completa." A nossa alegria é completa quando nós recebemos aquilo que pedimos em nome de Jesus[3], por isso precisamos nos alegrar já no momento que nós pedimos, por causa da esperança de que nós receberemos o que pedimos e por causa da certeza que, se nós não recebermos, continua sendo verdade que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus.

Devemos, portanto, orar com alegria sendo gratos por tudo o que Deus fez por nós no passado, dividindo as nossas cargas orando uns pelos outros, e crendo nas poderosas promessas de Deus para nós que garantem a nossa felicidade eterna em Jesus Cristo. É crucial buscarmos a alegria na oração, não só para o nosso próprio bem, mas também para glorificarmos a Deus, porque quando oramos com alegria, estamos cumprindo ao mesmo tempo dois mandamentos: "alegrai-vos sempre no Senhor" e "orai sem cessar". Portanto, oremos ao Senhor, com alegria.

[1] HERCULANO-HOUZEL, Suzana. Gratidão e Felicidade. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/gratidao_e_felicidade.html>

[2] PIPER, John. Em Busca de Deus. Tradução de Hans Udo Fuchs. Disponível em: <http://www.unionchurchrio.com/site/anexos/teologia%20da%20alegria%20a%20plenitude%20da%20satisfa%C3%A7%C3%A3o%20em%20deus%20-%20john%20piper.pdf>

[3] Pedir em nome de Jesus não é falar "em nome de Jesus" no final da oração, mas pedir como um representante de Jesus, pedir o que Jesus pediria se estivesse no seu lugar