Um inverno inteiro
Olha aqui eu dediquei todos esses anos a ti, todas as cartas de amor,os poemas, poemas que nem cabiam em mim, multipliquei um a um por ser para ti, juntei letra a letra, formando as palavras mais sadias do meu ser, e o teu cérebro nunca decifrou-as - não por burrice, era por falta de sensibilidade, o meu mundo nunca se encaixou no teu, não sei por qual motivo esperava encaixar-se - ainda assim era o teu nome que as paredes sussurravam quando eu passava, da sala à cozinha, torturando o meu frágil coração, deturpado pela solidão, solidão que na verdade era minha amiga, mas não podia enxergar isso, pois as tuas mãos tapavam os meus olhos, os dedos mórbidos congelavam meu corpo, a tua língua vadia dançava nos meus ouvidos, os teus cabelos mansos enroscavam em meu ombro - como dediquei anos, anos repletos de abraços, escadas escorregadias, laços afetuosos, histórias marcantes, canções de um inverno inteiro, quase metade de uma vida, ainda assim sempre fostes, para outrora voltar, em outras orações, outros corpos, outros beijos, outras sinfonias.