Algumas Peças de um Teatro Carnal (para o riso da platéia agonizante)
O sonho de ser sonho lambe meu rosto pálido no passeio às três da tarde, enquanto vultos ínclitos rondam o proscênio deste teatro absurdo de presenças provisórias, minha mal-encenada solidão cósmica, e eu intuo daí outras tantas máscaras, sabedor que sou que o jogo é só um jogo e no apanhado geral das fantasmagorias cada um é espectador agonizante do seu próprio e substancial vazio.
Corta!!!
Sei que precisava readquirir uma certa sobriedade se quisesse elaborar alguma peça escrita (para o horror da eternidade!) e, por isso mesmo, em meu povoado exílio cheio de loucos (eles nunca me deixam), fiquei sentindo a presença, a grande presença me rondar, até que, ao dominar as forças arcaicas e potencialmente destrutíveis, senti lá fora todo um mundo se revolvendo como um corpo dotado de sentido, um sentido muito absurdo, diga-se de passagem.
O céu é um espelho recoberto por uma crepe fria e avermelhada, enquanto a tarde, lá longe, equaliza os ventos e se despede num de profundis místico. A vida não se contém, o homem é um raio que se difunde por todos os lados. Cada facho desse raio é uma ação que se desdobra dentro de tantas conseqüências, filhas de tantas outras escolhas. Todos se enganam que são livres. Estamos todos interconectados, o mundo inteiro é uma global conexão.
Atravesso o pesadelo em intercursos de loucura e estrépitos na alma, suando e sentindo a carne densa sendo compactada pela pressão tentacular deste abismo atrocíssimo que me devora.
No entanto, tenho a coragem de me olhar de frente. Até os meus despojos eu olho de frente. As pedras são coágulos de mal-definidas intenções. Sorrisos ferem a projeção inocente do desejo. Bocas são corações que palpitam estrelas de poesia orgânica.
Saúdo o pleno. O resto é atroz...