Nosce te ipsum
De alguma forma eu aprendi;
Minhas palavras podem soar tristes, mas nunca foram uma exaltação ao lúgubre, ou conformismo com o decrépito.
Meus olhos reconhecem o mundo sem a máscara do dia e seu espectro colorido de ilusões que alimentam sonhos e criam pesadelos, quando esta - a luz - cede lugar à noite.
Tudo na vida é dual. E a dualidade é inerente ao espectro da humanidade. As pessoas, porém ignoram o lado escuro com medo do que podem descobrir sobre si mesmas e exaltam os aspectos da luz em exagero.
A luz toca a superfície das coisas, tal como as pessoas deslizam umas sobre as carapaças das outras sem jamais conhecer o que está oculto na noite interior de cada um.
Dentro não há o clarão que tudo revela e nada se expõe por vontade própria. É preciso cavar, cortar, sangrar e sentir profundamente para entender o que está escondido. Os diamantes não se formam na superfície e por isso são raros.
Apenas conhecendo o fundo escuro do poço você descobre a força que precisa ter para subir ao topo novamente e o fato mais assustador é:
Quando nos arriscamos - mesmo que quando jogados contra a nossa vontade - no abismo interno de nossas Almas é fácil perceber o quanto estamos sozinhos.
“Nascemos sozinhos e morreremos sozinhos”. Não sei se foi a minha crença nessas palavras que moldou minhas experiências , ou se foram minhas experiências que fortaleceram minha crença nas palavras. O fato é que em nosso âmago estamos sós.
Nem mesmo o amor pode fazer com que outro ser humano chegue tão intimamente no seu cerne. Embora o mesmo ofereça os consolos e o conforto quente da luz do dia, a noite sempre chega cedo ou tarde e nós nos vemos confrontados com um espelho que não mente e do qual não podemos nos desviar ou correr. O reflexo é a expressão da nossa alma e essa alma se comunicará conosco.
Vem, então a ironia. Ninguém nunca conhecerá outra pessoa de verdade observando o externo. É só quando nos voltamos a nós mesmos e conhecemos profundamente nossa escuridão que somos capazes de realmente reconhecer outro ser humano, pois por baixo da pele todos somos semelhantes. Sem segredos e sem dissimulações. O dom da onipresença, onisciência e onipotência. Há uma música que diz exatamente isso “sem a pele, os ossos eu sou Deus, O todo poderoso, curve-se e sinta o meu amor”. O trecho, eu considero auto-explicativo, mas eis aqui minha singela opinião; a primeira parte refere-se ao que eu já havia explicado; ao olhar para dentro e nós mesmo somos capazes de reconhecer ao próximo como parte de nossas almas e a parte que diz “curve-se e sinta meu amor”, eu acredito que exemplifica a verdadeira capacidade de amar - uma vez que somos capazes de nos reconhecer no próximo, amá-lo torna-se um exercício de amor próprio.
“Nosce te ipsum - conhece-te a ti mesmo”.