Não há beleza na morte.
Não há beleza na morte; esta é a que represento. Neste corpo ridículo, nessa cólera implacável sob o véu do silêncio. Não há altivez na morte; nela me vejo, como reflexo perturbador da mais verossímil premissa. Águas negras de sangue impuro, ondas do néctar-cútis fulgente - pálida, violácea, putrefata. Não há som na morte; apenas um ruído contínuo que ouso reconhecer - claro! claro! como não poderia? É minha voz; este ruído arguto, franzino e graciosamente excruciante! Deprimente! Não há sentido na morte; não aquele qual o existir ser-se tanto dá vida - mas do sentido factível. Não 'é' e não poderia 'ser' - a morte 'é' ninguém, a morte 'sou' eu.
Não há beleza na morte, não por ela estar constituída de tamanho feiume - o que é oblíquo e óbvio; mas porque eu sou ela e, sendo-a, eu a afeio.