Homo modernus
O Homem moderno não teme Deus nem a lei.
Essa é uma premissa da (Pós?) Modernidade que faz o Homem sentir-se livre… da moralidade.
Entidades do setor privado – tão ufanamente defendido por muitos – sedentas por lucro, que é o seu fim último, colocam carne podre nas nossas bocas e barrigas, em conluio com o setor público – igualmente defendido com vigor por tantos outros – que se omite e se corrompe igualmente em nome da manutenção do esquemão, para o bem de todos os envolvidos. Afinal, aqui não há ponto de retorno que não comprometa seriamente uma série de cabeças poderosas.
Se tamanha falta de compaixão e misericórdia pelos seus fregueses e contribuintes os permitiu expor a própria saúde destes ao risco de morte, o que outros como eles não farão conosco em outras necessidades menos urgentes do que a fome?
Mas eles não são piores nem melhores do que ninguém. Eles apenas são fruto dos nossos tempos. São o resultado indesejado (ou não?), porém fatal, de um sistema apodrecido e doente, no qual vivemos afundados até o pescoço.
Moramos mal, trabalhamos mal, respiramos mal, nos postamos mal, dormimos mal e até bebemos e comemos mal. Vivemos num modo de vida que nos faz morrer de câncer. Não há salvador dentro deste sistema. Se há quem demonize o ineficaz setor público, apontando a privatização máxima do nosso cotidiano como a solução para nossa vida ruim, acredito firmemente que está equivocado, pois este setor privado também opera esta desgraça generalizada. Aí está uma prova. Uma prova de que os criadores, gestores e agentes que regulam nossa vida moderna, sejam públicos ou privados, têm um conluio perverso da raiz à ponta. Seu fim último não é nosso conforto. Porque nossa satisfação e felicidade não é o objetivo desse sistema, mas tão somente o lucro, o dinheiro, o poder. Esse sistema não tem o Homem como seu centro. Esse sistema não acredita em, portanto, não teme, Deus. Esse sistema não teme a lei que ele mesmo inventa e molda a seu bel prazer. Esse sistema só teme a morte, e fará tudo para sobreviver – tudo: até nos matar.
É loucura conformar-se com isso tudo. Por que temos de manter esse modo perverso de vida? Nós, os cidadãos comuns, que vantagem temos em sustentar algo que nos aliena e nos mata? Já é mais que passado o tempo de mudança.
Ser conformado a isso é uma loucura.