DEVE VALER...
Sozinho, traço uma viagem de mim, nas noites dos momentos que me eternizam outrem.
Passageiro do silêncio dos vagões que se deslocam, lentamente, enquanto não durmo.
Observo, inutilmente, o percurso das sensações que trilham para onde, em cada proximidade do tudo há, cada vez mais, a intensidade do nada.
Sinto a força da máquina empurrando o destino como duas mãos me forçando as costas... Eu, inércia. Resistente...
Um olhar pela janela do vagão, em movimento, é ter as cenas da vida passando e imaginando a infinitude de outras surgindo... É ter, ao rosto, aquele vento que te fecha os olhos e te arranca seu melhor sorriso... É ter a certeza de que esse viajar deve valer uma vida.
Mas, no relógio sei que é o fim da viagem. Tantas horas pensando e sendo o que não houvera de ser...
Sou um viajante que vive parado,
Um passageiro que jamais vai,
Uma viajem que não inicia...
Sou um desejo morrendo calado,
Vendo o trem que, sem mim, sai,
Nas noites de todos dias.