Off-line
A modernidade nos aproximou. As redes sociais permitiram que existisse uma relação entre nós (ao menos para mim). Passávamos horas conversando pelo whatsapp, víamos as fotos do perfil um do outro, mandávamos mensagens e mais mensagens. Foram tantas madrugadas, conversas profundas, risadas sinceras (muitos kkkkk), derramamento de humanidade, discussões sobre política, compartilhamento de fatos da vida. Você me mandava as suas músicas favoritas, eu te enviava trechos dos meus livros favoritos. Você me confidenciava suas dúvidas quanto ao futuro, eu te segredava meus medos.
Confesso que ficava olhando o celular de 5 em 5 minutos para ver se tinha alguma mensagem sua. Por quanta frustração eu passei por não ser você que iluminava a tela do meu celular. Mas você não imagina a minha cara de boba quando via a tão esperada notificação. Qualquer mensagem, nem que fosse apenas um emoticon ridículo, me deixava em êxtase. Era tudo tão novo, tão empolgante, tão mágico. Era humano, mesmo sendo virtual. Comecei a conhecer você intimamente, seus medos, seus sonhos, suas conquistas, o que te deixava feliz, seus defeitos, o que fazia me sentir tão íntima, tão especial para ti. Por tudo isso, me flagrei imaginando um futuro para nós.
Com isso eu me dei conta que tava me envolvendo rápido demais, fiquei com medo. Por isso pedi um tempo, que parássemos de conversar. E aquilo acabou comigo. Eu fiquei muito mal. Tudo tinha perdido a graça. Me arrependi. Te pedi para voltar. Queria você de volta na minha barra de notificações. E continuamos de onde paramos, antes de eu surtar. Só que o tempo foi passando e eu não sabia responder a seguinte pergunta, que martelava na minha cabeça: “Por que a gente não se encontra?”. Moramos na mesma cidade.
Estávamos separados por alguns míseros quilômetros, mas você nunca tinha tempo, trabalhando o dia inteiro e nos fins de semana tinha faculdade, tcc, planejamento para a formatura. Eu também não tinha muito tempo, trabalhando o dia quase todo, indo para a faculdade, chegando tarde a casa, mas estava disposta a tentar encontrar um tempo para um encontro. Entretanto, você nunca podia, o que me deixava insegura e frustrada. Fui percebendo, pouco a pouco, que você só precisava de um travesseiro, alguém para você conversar antes de dormir, alguém que você podia consultar sobre alguma dúvida ou pedir alguma informação relacionada ao trabalho, alguém que iria acolher o seu choro, mas que nunca entraria nos seus sonhos.
A conversa foi esfriando, ficando cada vez mais monossilábica como se o tempo tivesse comendo as nossas palavras. Um bom dia ou boa noite sem emoticon, apenas por educação. Até os nossos apelidos foram perdendo o carinho e se tornaram apenas uma formalidade de que temos ou tivemos alguma intimidade. Até o “e aí sumida” foi esquecido. Tudo foi ficando cada vez mais distante, pois a verdade é que você nunca me quis perto, nunca quis meus olhos nos seus, nunca quis minha voz e nem o meu corpo.
Você nunca me conheceu. Nunca quis me conhecer. Eu fui apenas um passatempo. Agora você partiu para outra.
É triste, mas a conexão apesar de ser boa, nunca foi real.