Sobre a ausência de um velho amigo...
Eu tinha um amigo, ele era o um dos meus melhores, e de todos que já conheci, ele era o mais forte, mas ele morreu; morreu em sofrimento de queda no abismo da solidão, culpa, dor e lágrimas; tão indefeso e jovem, mas esvaziou-se por suas mágoas… Eu gostava muito desse amigo, com ele tive experiências incrivelmente humanas e memoráveis, mas ele morreu. Morreu lentamente de desilusão súbita. Eu já o tinha visto ferido de morte antes, mas ele havia sobrevivido. Porém, desta vez, depois de um breve retorno, o encontrei mais uma vez ferido, mas não sabia que era de morte até enxergar seu bondoso coração severamente partido, tinha um fenda tão profunda, dava vertigem de olhar; e daquela profundidade de ferida, saía alegrias vermelhas em grandes quantidades: a sua vida que se esvaziava; enquanto o resto daquela bondade se congelava, como uma pedra dura de mármore, alva como a neve… doía ver… Ele sofria de dores de culpa, rejeição e tristezas, mas na ilusão de uma vã esperança, eu ainda tentei o ajudar; porém, a desilusão dele era concreto maciço e puro, intransponível e insustentável de manter. Cheguei tarde demais, só me restou o tempo de manter, ao menos, a minha mão junto a dele, até esperar pelo seu doloroso e derradeiro suspiro. E esperei, ao que pareceu, muito, mas muito tempo mesmo, até ver suas pupilas de luz e de antigas alegrias, vagarosamente se dilatarem, restando apenas aquele olhar vítreo fixado para o nada, para mim; enquanto o meu próprio olhar rapidamente se inundava… Choveu, aquela chuva que dói no peito. Morreu meu amigo, seu corpo esfriou, sua respiração suavizou, seu espírito se foi e se apagou, e o silêncio se fez… ausência. Levou com ele suas memórias, sua bondade, sua luz; mas morreu com ele também seu agressor… e deixou a mim, sem saber quem ou por que o machucou, apenas uma sombra de saudades numa imensidão de vazio. E, pior de tudo, tristeza maior, não pude enterrar meu amigo, porque esse grande amigo, inexplicavelmente, morava pequeno dentro de mim…