Solilóquio.
– Eu queria viver. Hoje. Já.
– Você está vivendo.
– Não. Eu espero e a vida não chega.
– Deixa de ser besta. Enquanto você fala, a vida já passou um pouquinho.
– Não diga isso. É horroroso pensar na inexorabilidade dos segundos derramando cinzas em cima do que não foi, até tudo – que não é nada – estar soterrado.
De repente, eu descobri: lá estava eu sentado. Sentado enquanto a vida fluía de mim, quente, plena, vermelha; meu sangue ensopando o mundo, alimentando os vampiros, movendo os moinhos, enchendo os rios, transbordando nas margens e dando mais seiva às colheitas. Éramos eu, minha vida e meu sangue. A vida sou eu. Aqui, agora, ontem, amanhã, sempre. E o trágico é que só agora descobri a vida, enquanto a esperava, era eu. Eu. O quê? Ossos finos e bem construídos, recobertos de carne boa, flexível e harmoniosamente distribuída. Desconhecimento total de meu corpo com seus recursos, de meu intelecto com suas limitações, de meus sentimentos com seus anseios.
– E o que você quer afinal?
– Viver.
– Então vive! A vida é isso que você está fazendo.
– Não é nada. Sabe o que eu estou fazendo? Eu estou com medo do que eu sou hoje, com tanta vida pulando dentro de mim que nem sei por onde começar. Sentei e estou esperando ficar velho, porque aí vai ser extremamente fácil dizer de cima da minha experiência: “Pois bem, a vida é muito interessante, ensina muito”. E, então, partir para um resumo filosófico daqueles geniais, tranqüilos, que os velhos modernos dizem e você respeita.
– Você não quer viver. Você quer falar.
– Não. Eu queria viver. Porém sem riscos. Porque eu não podia errar.
– Quais são seus objetivos na vida?
– O quê?
– O que é que você quer? O que você almeja?
– Sabe que essa palavra “almeja” me faz pensar que a gente deveria se dedicar a alguma coisa muito extraordinária na vida e morrer por ela?
“O sucesso é efêmero. Foge de quem o busca. Melhor é buscar o crescimento próprio, aperfeiçoar qualidades pessoais, enriquecer conhecimentos e se entregar de corpo e alma ao trabalho que tem pela frente”. (PHS)
“O erro em si não me aborrece; o que me aborrece é quando a pessoa não quer analisar a razão do erro para aprender a evitá-lo”.(PHS)