18:00
Ao entardecer o céu insinua um tom de repouso... Pela janela já consigo sentir o aproximar dessa calmaria dos últimos momentos de todos os dias. Dá para notar todas as cores da íris do céu...
Agora, serenando, é como um bater de pálpebras para o cansaço do infinito... Num olhar que, hoje e sem porquês, lindamente, se avermelha... Logo vai dormir...
E eu esperando...
Um vento, suave, sopra e de leve realinha essas persianas que só me permitem ter trechos do céu e da vermelhidão desse olhar... brechas do olhar... frestas...
Eu, a inércia dos tempos, não reajo. Poderia afasta-las ao lado, puxa-las ao canto, ou retirar todas as persianas, pois sinto ser merecedor de todo céu, mas, deixo-me assim... Espero dos céus ao menos uma detalhe de sim para recolher as persianas... Passam minutos e o olhar se vai...
Sempre, quase tenho a sensação de que, todos dia aquele olhar se despede de mim ensaindo-se no céu à luz dos meus. Mas, só o vejo pelas minhas persianas... Vivo de acontecer todos os dias nesse céu. Tenho sido eterno nesses instantes... Mas, nunca acontece nada!
Eis a eternidade da iminência de acontecer, exatamente, nada... Acontece que a espera pelo nada é como toda uma oportunidade ao avesso. É como se, nesse estar sempre à véspera, eu vinculasse às impossibilidades reais todas as probabilidades irreais... Em mim, é como se, o fato de, ao menos olhar, equivalesse a um quase.
Há essência de contentamento nesse contato visual e diário com o fim do céu, há agigantamento das circunstâncias das imprecisões desse meu haver ser enquanto o céu sossega o olhar que ainda se detalha vermelho...
E eu, daqui da minha janela, no êxito pujante das eventualidades, vivendo nos limites de um olhar entre a realidade e a imaginação, como um fronteiriço desses acasos de céu, tornando a completude perpétua do jamais num eterno talvez...