Nightdreaming

No silêncio, tudo que havia era o som daquele grilo. Maldito grilo. Maldito silêncio. Maldito years&years que era demasiadamente bom. Maldita planta que eu havia deixado morrer. Maldita página em branco. Maldita eu.

Pensei, repensei. Mexi, remexi.

Direcionei-me para meu lugar favorito no mundo, minha janela. Acendi um cigarro e cuspi no regato: “descansa, mente. Só dessa vez.” – pensei para mim mesma. Ou disse em voz alta, tinha esse costume de pensar em voz alta sem sequer perceber.

As notificações no aparelho móvel não paravam, as luzes dos prédios lá fora não se apagavam, as ruas que trilhavam a cidade eram cobertas por carros que não acabavam mais. Mas aqui, comigo mesma, na minha vida real, sabia que isso não me satisfazia. Essa agitação, essa superficialidade. Essas luzes que se fossem desligadas da tomada tomariam uma forma assustadora.

Ódio, angústia, egocentrismo. Tudo aquilo passava literalmente sob meus olhos e eu os observava ao longe, sentindo-me totalmente avulsa aquilo.

Olhei para o céu, avistei uma estrela quase que apagada ao lado da lua. Ela estava lá.

Minha esperançosa lua. Meu espetacular céu. Dividindo a imperfeição da perfeição.

A linha entre o finito e infinito é tão tênue. Como pode ser tão discrepante de um lado a outro?

Desejei subir ao céu. Tornar-me alma, sem corpo. Sentir-me eu.

Em vão, sempre tentei mudar o mundo. Aliás, mudar minha perspectiva sobre ele.

Nada fazia-me igual. Como seria o céu de outros olhares?

Aninhei-me em meu travesseiro, dormi olhando a lua. Pensando no que esse universo escondia. Desejando desbravar o desconhecido.

Apenas devaneando.

Pois sabia que, no dia seguinte, os relatórios me esperariam. Os metrôs, o despertador. O estresse, as cobranças.

Mas tudo bem, a noite chega. A lua sempre vem.

E apesar de toda a guerra, a paz de chegar toda noite em meu quarto e imaginar um mundo paralelo através daquela janela, voltaria na noite seguinte.

A vida tem seus momentos, seus prazeres intensos, suas tristezas profundas. Mas nada como o meu quarto, meu desarrumado, minha própria paz.

Nada como querer fazer parte do céu.

Por breves instantes, fechar os olhos, e ser.