A natureza é perfeita, só que não.

A natureza é perfeita. Sob que ponto de vista ? Pergunte a alguém que use aparelho ortodôntico para correção da mordida como lhe parece a natureza. Provavelmente essa pessoa dirá que sim, é mesmo perfeita, sem tomar consciência de que a sua arcada pequena que não comporta seus dentes grandes é fruto da incompetência da natureza em associar geneticamente dois seres da mesma espécie. Digo incompetência porque, do ponto de vista evolucionista, a miscigenação é melhor do que a busca pela “pureza racial”. Sabemos todos que a reprodução consanguínea, ou seja, dentro da mesma família, mesma tribo, ou coisa que o valha, tende a amplificar os defeitos genéticos que porventura hajam no cerne de uma determinada raça, o que nos leva a outra questão. Não dispõe a natureza de um mecanismo para eliminar ou reduzir os erros nos casos de seres gerados por uniões entre parentes ? Se possui tal mecanismo, não é eficiente o bastante. Arrisco dizer que o conceito moral atual que reprova relações conjugais entre parentes próximos advém da percepção pré-histórica de que, simplesmente, não dá certo. Os seres gerados eram improdutivos e oneravam a tribo. Seria a natureza bipolar ? Estaria ela hora nos dizendo para reproduzirmo-nos em nossas tribos, hora dizendo para globalizarmos nossos genes ? Em suma, se não se pode misturar e tampouco se pode segregar, nada há a ser feito, pois erros ocorrerão de qualquer modo. O que dizer dos seres simbiontes ? Ambos incompetentes para viver individualmente, um necessitando do outro. Seria como uma mulher hemofílica a casar-se com um homem incapaz de trabalhar, mas que, no entanto, tem o tipo sanguíneo do qual ela precisa para manter-se viva, recebendo dele doações periódicas. Ela provém o sustento, ele o sangue. Ao que me parece, nada disso tem a ver com perfeição. Não acredito em conceitos absolutamente objetivos, acredito, por outro lado, em graus de maior ou menor subjetividade. Se eu for escolher uma palavra que seja, não “um exemplo”, mas “o exemplo” de subjetividade, escolheria “perfeição”. Gisele Bündchen é um exemplo de perfeição feminina ? Sob o ponto de vista do padrão de beleza cujo criador desconheço, sim, sob o ponto de vista da natureza, provavelmente, não. Ela tem quadris estreitos para ser uma eficiente reprodutora em comparação com outras fêmeas. Arrisco dizer que nem seria a fêmea mais eficiente em atrair machos da espécie, pois, ao menos os brasileiros, até gostam das magras, mas simplesmente adoram as “carnudas”. Creio que o problema seja apenas de comunicação. Nós temos um conceito de perfeição, enquanto a natureza tem outro. Como somos seres muito diplomáticos e educados, elogiamos a natureza por seus critérios randômicos enquanto ela não nos elogia, nem nos premia com seres segundo nossos critérios de perfeição. Parece uma relação unilateral “Donald Trumpana”, mas como questionar ? A natureza é perfeita e deve saber o que está a fazer, só que não.

Nictobata
Enviado por Nictobata em 06/02/2017
Reeditado em 06/02/2017
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