Deixe que a chuva molhe
Eu sentia. Nesses momentos eu simplesmente sinto. Quase nunca, mas sinto. É só uma mão no ombro me dizendo para caminhar devagar, sem pressa, " deixe que a chuva molhe". Queimo o cigarro, a fumaça se perde no horizonte. O que sentes quando não estás com sono? Quando a única coisa que era capaz de te alegrar, agora só te entristece? No lugar da maldita saudade escondeu-se o maior desejo, todas as espécies sentem; a vontade.
A saudade sufocou-se na própria ausência, na impotência das dores. As dores não doem mais, os olhos não enxergam mais. Não que os olhos estejam cegos, mas agora, depois que nada mais está embaixo dos meus pés, depois que o cigarro acabou, depois que o all star rasgou, eles simplesmente enxergam outro caminho, mas o outro ainda existe, embora eu não o veja. Não vejo porque é preciso sempre ter outras migalhas de pão, outros risos, depois de muitas madrugadas no escuro, e não que as dores tenham sido erradicadas, mas agora não me machucam.
O que era visto como um sentimento muito além do inesperado, hoje não faz mais sentido algum. Ora, porquê o momento de prazer e pura emoção é um instante que queremos que seja eterno, no entanto esse momento acaba, e o eterno torna-se inútil em seu próprio sentido. Percebo que o eterno não é o que dura para sempre, pois o momento acaba, e só a lembrança dessa felicidade é que dura, ela é eterna.
De alguma forma a eternidade foi real nesse inferno que tive de entrar, não só as mentiras cegas que me faziam imaginar além do que realmente era, mas também, como as verdades que os olhos não dizem, e sim as que eles enganam. E vejo que é exatamente assim, as pessoas não são como imaginamos, só depois saberemos, depois do primeiro cigarro molhado... E quando soubermos, a verdadeira realidade chamará na porta acordando logo de manhã cedo; " Ei, percorra o infinito, a vida não foi feita para isso, muito menos você..."