A sonolência tediosa das companhias

Salvo raras exceções, toda companhia tem me oprimido violentamente. Arranca-me de mim mesmo como uma criança da mãe. Sorrio mas não quero, os gestos saem pelas mãos, a expressão é automatizada por repetição.

Há um esforço por simplesmente estar na companhia de alguém, um sentimento de ter que ser outro por ter de responder. O ter de sentir o tédio em suas perguntas, a sua vergonha de ser nos nuances de suas vozes, as precipitações do que iam dizer e deixam de dizer, o mudar de assunto por que "aquele" não vingou: tudo isso oprime meus sentimentos. Pois eu sei que estão atuando pessimamente pelas impressões me causam.

E pior ainda - se alguém se constrange em minha frente, por minha causa, eu sou obrigado a sentir o mesmo por osmose.

Eu sinto quem apenas quer minha companhia para matar tempo, quem deseja apenas desintediar-se de si mesmo. A estagnação da máquina inteira que não se sente no lugar de ser acaba passando para minhas emoções e fico desinteressado como eles.

O silêncio os incomoda, não possuem espaço para esperar vir á tona o que de melhor vier, por isso quebram-no fazendo-me perguntas que já sabem a resposta, e suas vozes me dão sono..

Fiódor
Enviado por Fiódor em 23/01/2017
Reeditado em 08/02/2024
Código do texto: T5890854
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