Por enquanto, sou Inverno.
Certos dias recheiam-se de nadas indizíveis, imerge-nos em seu infindo oceano nadificante, de tal maneira que nos afogamos lentamente, indo de encontro à escuridão que, vasta, descansa em suas profundezas. Falo dos oceanos, falo de certos dias.
O nada, embora seja nada em si, tem um peculiar sabor; ouvi dizer que não sabemos dizer em palavras todas as coisas, é o que percebo sobre o nada; no fim ele é tanto que não se pode mensurar, ou dizer, ou expressar.
Algumas coisas não estão ao alcance das mãos, e tudo bem que seja assim. Se pudéssemos tocar o horizonte, decerto que já não seria tão interessante apreciá-lo nos fins de tarde.
Já dizia Oren Lavie: “Always near, but never there.” — Acho que ele tem razão.
Agora chove, chove continuamente. É janeiro, é verão, e eu, por enquanto, sou inverno.