Solidão

Ninguém me viu passar, descalço no chão frio?

A pele descascando, os ossos rangendo.

Mas não reclamava. O momento era complexo... um monólogo de Deus.

A música e eu, a umidade no ar, os cães aninhando-se no lixo. Um suspiro pouco antes do sono profundo, como um bêbado na porta de um bar ainda fechado. Algumas memórias passam por mim. Não é preciso identificar sua tristeza. Não me olham nos olhos dizendo ser necessário ter força, apenas se vão. Abrindo as cortinas da angústia.

Eu mudei. Tornei-me uma folha seca na plenitude da primavera. Todos os sorrisos que um dia provoquei, agora são cobertores gastos durante os gélidos crepúsculos. Me imagino novamente na vida deles. Uma mancha de café num vestido, uma carteira vazia. Sou escravo de suas metamorfoses. Isso me fazia bem. Como perdi todo tesouro que inusitadamente brotou em meu jardim?

Ninguém me vê passar, estou pintado de rua, exalando estranhezas e desordem... enquanto o mundo se fecha em meu coração e olhos cansados.