Penitência (As Dunas do Esquecimento)
Sob um sol escaldante tenho caminhado, talvez como penitência por meus pecados...
Eu não me lembro exatamente onde errei ou a quem feri, mas preciso de punição...
Meus pés caminham pela areia escaldante com medo, mas já feridos, passo a passo penso em ficar parado, mas meu sangue já foi derramado, sigo então...
Meus olhos espremidos enxergam o mesmo horizonte trêmulo há tempos...
Não há nada aqui para mim, e de onde venho destruí a única coisa que tinha...
Sou um maldito, esquecido que uma vez fui lembrado, que já teve o céu e preferiu a jaula com cadeado
Tenho arrependimentos como tantos, e sou julgado por muitos; como fosse a derradeira criatura, como fosse o único culpado, não sou...
A diferença é que aceitei o caminho que escolhi, quando sobre minhas mãos o destino repousava, e não derramo lágrimas sobre as decisões que aqui me trouxeram, de alguma forma mereci, de alguma forma aceitei, é aqui que deveria estar e aqui estou então....
Sinto pelos que deixei, poderia ter sido melhor e não fui, poderia ter feito do mundo um lugar melhor e só estraguei tudo...
Meus lábios secos sabem pronunciar tudo que deveria ter dito, mas sempre faltou coragem...
Pra dizer ou pra fazer, para ser honesto comigo e com todos os que viram minhas falhas e tentavam me ajudar, mas seria impossível guiar um cego que pensa enxergar verdade nas mentiras...
Ninguém pode ensinar algo a alguém que pensa saber, ainda que errado, e eu com freqüência tomava o caminho errado, logo, o certo para estar aqui...
Caminhos estes que pelos ventos são levados, não vejo progresso, futuro ou passado, estas dunas são minha penitência...
Caminho sedento sob este sol sem água encontrar, sem saber em que direção caminhar...
Com o frio da noite e com o calor do dia, e mesmo sob estas condições devo continuar, vou então o mais distante que puder ficar
Não mereço estar perto daqueles olhos que um dia fiz chorar...