Epitáfio

Se o que morreu não é humano, sequer bicho, apesar de seu comportamento ser às vezes animalesco, nem planta, como escrever o epitáfio dessa coisa que mesmo sem carne e sem alma respira?

Respirava, na verdade. Preciso me lembrar disso: respirava. Sobraram alguns pedaços de consciência que insistem em provocar sonhos vívidos dessa vida enquanto viva e que além disso mostram caminhos de ressuscitação, desfibriladores, orações poderosas, poções, hipnoses...mas não é preciso respeitar esse sono?

Não era feito de carne, mas do contato entre duas ou mais, nem pensava, naturalmente, mas se cutucado, poderia formar uma teoria ou duas. Mas principalmente escreve teorias e regras depois de morto, deixa testamento, marca preconceitos, e o cuidado é redobrado. Pra não deixarmos morrer nem matarmos de novo.

Jaz em algum lugar - talvez no vento - esse mistério que nem a chance de ser velado tem...