GANA
Impossível interlocução
Com sangue, tecido e tutano,
Quando tudo está à tona
Da etiqueta para estupidez,
Convenção e medo.
Por causa da árida superfície,
Tenho no fundo dos ossos
Meus cães uivando
A estertorar sua fome
De olhos, bocas e mãos,
Numa avidez de encontro
Dos dentes com paisagem,
Palavra e gesto do âmago
Acre ou doce de outrem.
Abandonem-se às moscas
Ou a quem interessar possa
A vista estereotipada no cartão,
A oca frase palindrômica,
O maquinal aceno metálico.
Eu quero linfa de córnea vazada
Por luz verdadeira,
Verbo cristalizado em sal
De uma dor transbordada,
Compulsão dos membros
Estreitando abraços.
Bem houvesse em mim,
Sob a luz de qualquer sol ou lua,
Quietação de cães
Saciados de visceral conviver.