As sobras
Você tem ideia de quão deprimente tudo isso é? É aterrorizante! Como aquele filme onde jogam sangue de porco na garota no dia do baile. É desprezível.
Não éramos pra ser três, era pra ser só eu e você desde o inicio, era pra você ter tomado atitudes mais corretas do que tomou. Mas no fim das contas você não me escolheu, você escolheu ela. Você escolheu não abrir mão dos cinco anos que viveram juntos antes de mim, mesmo que ela tenha partido seu coração em pedaços e desaparecido da sua vida.
Agora ela voltou, como cachorro arrependido depois de fazer besteira, e em nenhum momento ela reparou que ao seu lado havia uma alma viva. EU!
Mas o pior de tudo, é saber que não importa o quanto eu tentei, não importa quantas noites eu passei em claro e nem quantas lágrimas derramei... Você a escolheu.
Quanto a mim? Eu não sei.
Esse lance de triângulo amoroso não é pra mim, a gente acha que vai ser igual aos filmes onde a parte excluída da equação vai se apaixonar por outro alguém e poupar o casalzinho feliz de ter que lidar com mais um fardo, mas advinha, isso não é um filme, não é um poema do Drummond, nem uma música do Caetano.
É a droga da minha vida que você está mexendo, e você não deveria ter feito isso.
Sinceramente, eu estou bem curiosa. A humanidade vêm descartando os restos e sobras há milênios, porque com a gente seria diferente? Será que eu achei que você não ia me abandonar só porque você prometeu? Será que eu sou idiota por ter acreditado na sua palavra? Quando eu os vi juntos eu comecei a achar que sim. Eu achei que seria diferente, porque eu nem sei quantas vezes eu implorei pra você ficar enquanto te assistia ir. Eu achei que seria diferente porque você me abraçou quando eu chorei e disse que tudo ficaria bem. Eu achei que significava: Não vou embora, mas na verdade era um: Para de chorar, vai ser mais fácil assim.
Então tá né. Ela estala os dedos e você volta. Mas e eu? Nem me venha com o papo furado de que ela é seu verdadeiro amor, e que o que houve entre nós era passageiro, porque se você realmente tivesse um pouco de caráter nunca teria nem sequer tocado em mim.
Não se deve ficar com outra pessoa enquanto ama outra, não se deve alimentar esperanças que você não pretende alimentar e não se deve brincar com o sentimento de alguém que sempre te levou a sério. E então? Por quê? Por que veio até mim quando na verdade queria ir até ela? Ao menos isso sabe responder?
As pessoas que nos assistem de fora, vêem tudo isso como uma situação passageira. Elas observam um casal, que superou as barreiras do espaço tempo, que lutou contra tudo e todos e mesmo depois de terem se separado, nunca deixaram de se amar.
Mas poucos enxergam o outro lado. Porque bem no cantinho, escondida atrás de todo esse amor brilhoso, se encontra a outra parte, a menos insignificante, que foi deixada pra trás porque alguém resolveu ser feliz as custas do seu sofrimento. Essa parte, que nem sequer fazia ideia de que havia um outro amor que superava até o raio que o parta, é jogada aos lobos com um simples: O problema não é você, sou eu.
Se o problema não sou eu, então por que é tão difícil você me amar? Por que é tão difícil que qualquer um me ame? O que tem de errado comigo?
As pessoas deveriam reparar mais nessa parte que sobra. Quando se descasca uma laranja, pra onde vai a casca? Quando se renova o guarda roupas, o que acontece com as roupas que estavam lá antes? Se você não gosta da cor de um batom e o joga fora, o que acontece com o conteúdo?
Ninguém tá nem aí pras sobras, são só sobras. São só fardos.
Eu só imaginei que ao menos uma vez alguém ia lutar por mim. Quem vai cuidar de mim? E eu? O que devo fazer? Quem vai me amar como eu amei?
Eu não sei.
Só sei que você ama ela, precisa dela... E eu nunca serei ela.