Ateu ou não-ateu, eis a questão...
Ninguém nasce teísta, torna-se teísta. Ser ateu é a maior contradição do espirito - se para ser ateu é preciso pressupor o teísmo, então uma nova categoria me deveria ser qualificada, talvez "untitle" - Calamos, eu e meus eus. O impulso quer falar, mas ainda não há lingua, voz própria. Temos palavras apenas para aquilo que já superamos. Não temos nome para o que vivemos, a vida nos obriga com seu peso a nos calar. Nossa experiência é silenciosa, nossa vivência interna se materializa numa multiplicidade de pontos de vistas, os pensamentos não nos dizem nada a não ser em contra-ponto a outro ponto de vista, e através do combate nós superamos ambos os pontos de vista, dando vida ao novo que daí nasce. Como no primeiro dia que abrimos os olhos para o mundo.
Não sou ateu. Não penso de modo ateísta, linear, racional, científico-empirista, sinto cheiro de crença, conformismo. De nariz torcido, eu diria que nasci ateu. E isso não faz qualquer sentido. Já que a palavra "ateu," por natureza, pressupõe um dualismo.