Escuridão da alma
Estou cansado, tudo fere fundo demais; as vivências se tornam cada vez mais difíceis de digerir, até os bons momentos que, por serem bons e eu não ver isso, não sentir como bom, e sim, como fugazes, supérfluos, são os mais tristes, soam-me sempre como despedida. Há sempre uma tristeza em cada alegria que vivo. Eu já não sei mais sentir raso.
Minhas forças estão se estagnando, meus pensamentos estão sem impulso, a vontade parece querer dormir em mim. Pensar se tornou um esforço, um peso, cada pensamento me causa uma ansiedade tremenda, que sinto dos pés à cabeça, do coração até a alma. Como se na estrutura no meu corpo todas as bases estivessem rachando, é um tremor das unhas à alma, e parece que vai desabar mas nunca desaba. Sentir, estar vivo - eis o absurdo que minha alma se apavora. Sinto uma vontade de nada, uma aspiração ao nada, uma vontade de dormir, aquietar-me num canto da realidade e ficar ali para sempre. Nos vôos altos da individualidade devaneio com o fim, como das almas aristocráticas, pela grande renúncia ao mundo, da ascensão pelo declinio, pela afirmação da negação da vontade, da morte - pelo suicídio.
E não é tudo isso uma doce ilusão como a um canto de sereia? Bem sei eu, e por isso ainda tardo a ficar neste mundo. Mas se um dia se provar em meu coração o fim de todo espiritualismo que ainda existe em mim, farei da morte a arte mais bela, e redimirei minha existência pela negação dela, mas que a afirma em todo o seu caráter trágico; deixarei este teatro do mundo como a um sonho, e a ilusão de morrer a pintarei com o mais belo simbolismo. E talvez, quem sabe, renascer neste mundo que eu mesmo criei.
Viver é imaginar...