A BANALIDADE DA VIOLÊNCIA

(Homem de cor, vendedor ambulante, morto por dois jovens, em lugar público, supostamente por defender duas travestis, em noite de natal...)

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"Tudo nessa história converge para chocar: o espancamento de um homem de 54 anos por dois jovens de 26 e 21; a morte ter ocorrido dentro de uma estação de metrô; a falta de preocupação dos rapazes de fazerem isso em um local em que certamente seriam identificados; não ter aparecido nenhum segurança para impedir; câmeras terem gravado as imagens que, mostradas pela imprensa, viralizaram pela rede; uma pessoa já discriminada socialmente (um vendedor ambulante) ter morrido porque tentou defender outras pessoas que também são (travestis); ser noite de 25 de dezembro, Natal".

(SAKAMOTO – texto completo em: <goo.gl/SzKYHW>)

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P.S.

Ou minha ideia de civilização está equivocada ou ela precisa se adequar ao que se costuma chamar de ‘contextualização’ com a intenção de dar a cada realidade (conceitos e significados também) sentidos e significados locais, restritos, pessoais, limitados, portanto.

Esse fato, como muitos outros que ocorrem ininterruptamente, instigam a minha percepção sobre o que se chama de civilidade, civilização, sociedade (socialidade), humanidade e humanização. Ou somos uma civilização humanizada em conjunto com todas as pessoas que nos compõe como mundo humano e esses eventos constituem-se apenas exceções, ou não somos, ainda, totalmente civilizados. Claro, posso pensar que, se existem alguns indivíduos que não fazem o que deveriam, isso não justifica me incluir no rol dos incivilizados. Ou somos TODOS uma dimensão de humano, ou isolamos o TODOS para um dimensão restrita, limitada, situada em um contexto que é local, nosso, no nosso mundo, na nossa casa, comunidade, família, e, nesse caso, não há como não considerar que existem diferenças entre os humanos com os quais nos situamos e aqueles que pertencem ao grupo dos desviados.

Para mim estamos em processo de nos civilizar. Longe de um ideal, mas, caminhando, em aperfeiçoamento. As situações inadequadas em relação ao que desejamos e defendemos como ‘dever-ser’ deveriam nos afetar no sentido de, primeiro ser melhores e mais solidários com os mais próximos e segundo empenhar-nos mais para o coletivo. Acredito que podemos fazer mais do que fazemos para que o universal seja mais humano. Nesse sentido não deveríamos considerar que somos uma civilização. Estamos distantes desse ideal.

Enquanto isso, cada um compreende e encontra formas de analisar e refletir – ou não –, sobre as situações que indicam o quanto estamos longe de um mundo civilizado e, paradoxalmente, próximos de uma perspectiva em que a indiferença é marca cada vez mais evidente.