Sim, rosas
Sim, rosas. Ou melhor, minirrosas. Qual mulher nunca sonhou em ganhá-las seguidas por um longo abraço, um carinho, afago...? Ou qual ser dotado de masculinidade nunca foi vítima do desejo de dá-las? E o mistério da causa do fascínio pelas pétalas de uma planta espinhosa, associado à vitimização do fascínio me estimulam a tê-las. A cuidá-las.
As rosas cativaram o homem há milênios! Por que razão eu as resistiria? Por esse motivo, dou-me ao prazer desafiante de responder ao fato de elas terem me cativado, cultivando-as. São seres incríveis! A começar da estrutura, onde se encontram espinhos, assim como em nós, assim como no mundo, assim como na vida. Ora, todos somos espinhos e nesse sentido não há diferença entre nós e elas. A vida nos oferece espinhos, então, ser furado ou cortado enquanto manuseia-se uma, é apenas uma mera simbologia do que, de fato, enfrentamos cotidianamente nesse sopro de existência! Lidar com espinhos faz parte de quem somos e estamos. Objetos perfurantes, que causam dores, fazem parte do desafio diário de viver. Ora, quem nunca foi machucado ao lidar com alguém que aparentemente era flor? Quem nunca foi vítima da famosa traição que, sem mais nem menos nos atinge, desestruturando àquilo o que chamamos de alma? Isso é espinho!
As rosas são genuínas e sem segredos. São o que mostram e ponto! Se não quiser espinhos perfurando suas mãos – apenas elas – para ter como posteridade flores, não se atreva a lidar com roseiras. Se o desejo é apenas flor, adquira uma colhida, feita, montada... Mas não se aproxime das espinhosas. Só quem se dispõe a entendê-las, consciente de que serão necessárias gotas de sangue pra se colher flores vermelhas tem das rosas a admiração. Não é soberba, independência ou antissocialismo da parte delas, ser uma planta solitária e quieta. Na realidade, isso revela resistência! Resistência às intempéries: ao frio, ao sol, ao calor sufocante e o frio hipotermizante. Isso é resiliência! Não há roseira que não aprenda a lidar com as situações que se estendem além-folha de modo que isso a torne mais experiente e melhor consigo mesma. Isso faz gerar folhas melhores, galhos mais firmes! Oxalá fôssemos da mesma forma! Sem sombra de dúvida não teriam tantas almas desfalecidas. Se aprendêssemos com elas a ter flexibilidade diante das situações pelas quais somos submetidos, não haveriam tantos corpos bonitos de almas doentes. De almas inflamadas por feridas purulentas. Não hesito em afirmar que não haveriam tantas almas com espinhos que as impedem de ser abraçadas por aqueles que trazem a cura sobre suas carnes dilaceradas. As roseiras são mestras. As melhores mestras!
Como nenhuma outra planta, permite ser cortada. Podada radicalmente de modo que visualmente, morrem. Ao ter seus galhos com folhas arrancados de si, não respondem deixando-se minguar pela dor e suas forças serem minadas. Antes, resilientes como são, tratam logo de cicatrizar o local onde uma tesoura afiadíssima decepou um de seus membros. Nunca se viu uma roseira queixar-se de um corte. Calma, silenciosa... trata de forma natural, fina e poética de, numa mínima parcela de tempo emitir novos ramos e novas folhas e por fim, o resultado de todo o seu esforço: A mais resistente e envolvente e abraçante flor: Rosa! Decerto nesse sentido, somos antagônicos às rosas. Permitimo-nos em um único corte, deixar fluir tudo o que somos e temos. Numa única poda – na maioria não chegam a ser radical – perdemos o rumo das coisas e cegamos em relação ao enxergar o sentido de existir. Quando o ponto é esse, decepamos a nossas próprias cabeças! Não suportamos deixar partir parte de nós, ainda que a lucidez de que algo melhor será reposto. Não confiamos em nós mesmos. Quando, enfim, o tempo passa, nos damos conta que podas são necessárias para o surgimento de novos ramos, novas conquistas, novas experiências e fases. Esse segredo elas aprendem desde cedo!
Portanto, roseiras são, em sua essência, um paralelo a nossa vida revelando uma personalidade única, a qual, quem a tem, amadurece em dias! Por isso cultivo roseiras. Por isso cultivo as minirroseiras. Jamais farei questão pelas gotas de sangue, pelos espinhos ou pela ausência de flores. Não temerei podá-las porque sou convicto que sabem lidar melhor com os cortes, do que eu, que os faço. Não quero rosas, quero roseiras. E por querê-las, tenho rosas. Em suma: a vida é muito curta pra não cultivá-las.