Como dizer adeus?

De fato há muitos tipos de adeus. E por que não nos damos bem com nenhum dos tipos de adeus? Simples: Nunca lidamos bem com a morte.

Eu costumo dizer que viver é continuar andando num caminho que de propósito vai te despedaçando pouco a pouco, te tirando pedaço por pedaço, e inevitavelmente um desses pedaços é grande, é importante, é alguém. Quem tira? A morte. Costumo dizer que a morte é cúmplice da vida, porque no final, as duas caminham juntas e tem os mesmos objetivos. Outra coisa então que costumo dizer é que vivemos para perder pessoas para a morte. O que isso significa? Bem… Vivemos em perder pessoas. Você, agora, consegue se lembrar de muitos queridos que não estão mais com você? Ou que se estão é como se não estivessem? Quantos amigos do passado que diziam que iriam ficar para sempre? Um amor que passou? Um pai que morreu? Uma mãe que se foi num acidente? Um desentendimento nunca entendido? Um abandono nunca reecontrado? Todas essas situações são mortes. São tipos de morte. A morte nos leva todo mundo. No final nos leva.

Para onde? Para o post de hoje essa pergunta não interessa. Vamos adiante…

Como eu dizia há muitos tipos de adeus, há adeus para situação. Muitos são parecidos, mas outros são abismalmente diferentes.

Há um adeus que se dá para alguém que foi tirado da gente.

Há um adeus que se dá para alguém que decidiu ir embora.

Há um adeus que se dá para alguém que foi expulso por nós.

Há um adeus que a gente nos dá.

Há um adeus que a gente dá quando a situação é insuportável, contudo que pretende continuar da mesma forma se nada for feito.

Há um adeus que se dá para manter a situação como está, porque se algo não for despedido a destruição é iminente.

Pois bem… Como dar adeus? E por que é tão difícil? E o pior – por que há “adeuses” que são dados só de lábios mas as situações continuam iguais? E o talvez pior ainda – por que há “adeuses” que se dão com direito a último abraço e tudo, mas que não é dado no coração, e então para alma é como se que aquilo que se foi não tivesse ido, aquilo que não está como se estivesse, e que por isso é confundido em cada sombra que nos parece familiar?

Acho que fiz muitas perguntas. Mas, são perguntas interessantes. Me fazem pensar. E lembrar. E até sorrir. O passado é essa coisa estranha que gruda na gente como carrapato, um carrapato com poderes alucinógenos, só basta olhar a cortina se mexendo, só basta ouvir o vento na janela, ou sentir o cheiro daquele perfume, que já pensamos que nosso antigo amor chegou à porta. E o que nos ocorre quando percebemos que este passado não passa de um vazio presente preenchido de autoenganos presentes? Ficamos mais vazios do que antes. Se formos a fundo chegamos a ver, a tocar, a sentir, a chorar nos braços dessa alucinação – as piores drogas são aquelas que são capazes de nos ludibriar quando enquanto estamos dormindo. Porque se o mundo não nos oferece o que tanto queremos porque já tivemos um dia, dormir drogado pelo passado é o palco perfeito para por alguns minutos recriar uma nova realidade que nos dará tudo isso, mas que infelizmente tem alto preço de angústia quando se acorda e percebe que tudo foi uma mentira da mente.

Como dar adeus? Não há um padrão. Situações diferentes requerem atitudes diferentes. Mas, penso eu que um adeus bem dado em qualquer situação, mesmo que para o abandonado ou o que abandonou, mesmo para o morto ou o que vela, mesmo para o traidor ou o traído, mesmo que para a vítima ou para o sobrevivente, para todos, um adeus bem dado é uma forma que a vida oferece para nos proteger. Sim…

Dar adeus não é esquecer e nem “se libertar“, e sim se dar uma nova chance. Não há lacuna que em sendo um dia preenchida se de novo esvaziada não possa um outro dia ser repreenchida. As nossas carências são muitos proprietárias. Esquecemos que pessoas são pessoas.E pessoas se vão. Pessoas desaparecem. Ás vezes tem culpa de desaparecer. Às vezes não. Às vezes somos nós os culpados. Mas, não estamos aqui para falar de culpa. Mas, de falar adeus.

Como dar adeus? Bem… A primeira atitude é começar de dentro. O adeus que primeiro é dado nos lábios, para depois ser dado no abraço, e por fim no coração quase nunca funciona, e quando funciona dificilmente é uma coisa bem resolvida. O adeus deve começar de dentro, e com força vir do coração para mente, e por fim para o corpo. Se é necessário dar a adeus a alguém primeiro tem que se dá adeus às memórias, aos momentos, às necessidades e aos vícios (Sim, porque pessoas viciam em pessoas). E só depois com atitudes.

Daí pra frente os passos são lentos. Se forem muitos rápidos vão pular as etapas. Se pularem as etapas é capaz de acordarem no início e ter que fazer tudo de novo. Somos frágeis. Para dar adeus tem se que imaginar com cuidado “a parte boa em viver sem uma pessoa“. Nesse momento você pode estar furioso comigo, pois se seu caso for de “ente querido que se foi” como poderia eu dizer que foi bom ele ir embora? Como ver um lado bom nisso? Nesses casos o lado bom de não ter é imaginar como seria ter, porque sempre que a gente imagina imagina as melhores coisas. Por exemplo, você perdeu sua avó? Você adora lembrar dos bons momentos, não é? Mas, você sabe que também havia os ruins. O lado bom de não ter mais alguém que morreu talvez não justifique e nem console, mas a questão é que ele existe, quem sabe alguém que estava sofrendo não sofre mais, quem sabe alguém preso que ficou livre, alguém cansado que descansou, ou o mais importante, um alguém que em sua partida nos tornou mais maduros, mais sensíveis e mais capazes de dar importância ao que ainda continua vivo. Temos que tentar enxergar o lado bom em viver sem.

Os passos seguintes são muito relativos. Todavia tem um invariável: A decisão. Dar adeus é adeus. É fim. Acabou. Aceite. Viva. Muitas vezes você gostaria de escolher ter de volta alguém, por medo? Carência? Vício? Whatever. Se chegou a hora seja autêntico e se liberte das próprias algemas da angústia que você está passando.

Angústia só tem direito de fazer a nossa saliva parecer amarga. E nada além disso. Ela não tem o direito de nos sufocar. De nos segurar. De nos prender. De nos espancar. De nos acorrentar. Isso é maligno e não ensina nada a ninguém. Angústia se sente nos dias, no peso, no choro, na lágrima e na comida que desce mais difícil, o além disso é doença e merece ser descartado.

Quando o adeus é aquele que chega porque não aguentamos mais é muito fácil. Porque nos livramos de um peso.

Quando o adeus é aquele que nos é imposto, talvez não seja tão fácil, mas é prático, é muito mais fácil ser abandonado do que abandonar.

Quando o adeus é aquele que somos obrigados a dar, a partir o coração, a machucar, visando talvez um bem maior, ou um individualismo maior, aí é muito difícil e nada prático.

O que todos esses adeus têm em comum? Livra-mos dos pesos. Vida é pra ser leve. Se for chorar que seja pra tirar de dentro e pôr pra fora, não pra sufocar. Se alguém foi ou é você que vá que as últimas palavras sejam ditas com humanidade sem humilhações. Se for pra assim ser… será. Se não outras dores dirão.

Seja um salmista moderno. Contamine-se.

~ Leandro Santtos

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