Daqui há
Sempre dizem que quando eu for mais velha, entenderei as coisas de forma diferente. Eu espero que isso seja a mais pura verdade.
Daqui há dez anos, eu espero entender melhor o porquê de as pessoas irem e virem com tanta facilidade. Eu espero poder ir e vir com essa facilidade também.
Daqui há cinco anos, eu espero poder dar respostas simples e rápidas, sem exagerar na dose ou nas palavras. Dizer apenas o que eu quero dizer.
Daqui há sete anos, eu espero lembrar do passado e rir ao invés de chorar, porque dizem que quanto mais dói no presente, mais amadurece no futuro.
Daqui há três anos, eu acho que vou estar satisfeita, talvez eu acompanhe as noticias no jornal e entenda porque o mundo age como tal. Ou talvez não.
Daqui há seis meses, eu espero que não doa tanto quanto agora, que a sua passagem em minha vida tenha sido em boa hora e que um dia eu vou conseguir te perdoar por partir.
Daqui há quinze anos, eu acho que ainda vai doer, mas de um jeito que não agonize, que não aprisione, de um jeito que talvez eu consiga contar aos meus filhos sobre como você foi aquele que preferiu ir embora.
Daqui há uma semana, eu espero já ter superado, quero lembrar apenas dos momentos bons e da boa música, de dançarmos sobre o tapete felpudo e de sentir suas mãos acariciando as minhas.
Daqui há dez anos, eu ainda vou gostar de música e de dançar, ainda vou pensar que tudo se resolve com uma boa noite de sono e vou acreditar que o que tivemos foi real.
Mas daqui há vinte anos, eu nunca vou dizer que você foi só mais um romance que a vida dá, porque te amar foi um privilégio que eu escolhi honrar, e mesmo depois de tantos anos eu ainda vou acreditar na promessa que você fez, quando jurou que sempre encontraria uma forma de voltar, que sempre acharia o caminho até mim e quando a dor já estivesse sarada, poderíamos recomeçar.
Eles dizem que quando eu for mais velha, entenderei as coisas de forma diferente, você também disse isso. Só o que eu posso fazer é esperar que isso seja a mais pura verdade.