08/12 de um dia qualquer
A vida é uma mar de crises, algumas importantes demais, outras até que insignificantes, mas, em geral, são essas que não têm o enorme peso. Existencialismo subsequente.
Hoje é feriado aqui na cidade, e eu deveria estar por ai, zanzando, bebendo, ou dando voltas num shopping pequeno. Porém acordei tarde, fiquei em casa, o dia todo de pijama. Sem querer, pus-me de frente ao passado. Escolhas. Desleixos. Inocência. Descuidos. Por fim, amores. Sinto saudade no meu peito, e minha consciência grita como um desesperado em agonia. Tenho saudades, mas não sei se é do hoje, ou do ontem longínquo residente nos escombros da memória. Começa a ficar tão frio aqui. Hoje não me sinto à vontade em dizer palavras confortantes, amorosas ou românticas. Só por hoje não revirei tuas coisas. Algo está morto em mim ou apenas ausente. Talvez eu não queira velar. Enterrar. Esquecer. Deixa feder o cadáver exposto. Quantos anos se foram no calendário das lembranças vagas? No mínimo dois, três talvez. Quantas palpitações de corpos se perderam? Quantas carícias? Quantas juras em segredo? Foram amores verdadeiros ou devaneios de paixão? Ah, mas nada melhor do que o cheiro do passado como o da chuva fina no asfalto! Deitei na cama para pensar. Queria na verdade apagar e levantar no outro dia cedo com o despertador na orelha e a cabeça cheia de planos para o trabalho. Feriado tão vazio.