Nada...nada...
Vi algo de muito interessante na televisão. Estava a comer na sala e a televisão estava ligada, como de costume. Ligada por ligar, por mania (nada econômico). Cheguei à cozinha para ir buscar mais pizza que estava no forno e olhei para a televisão. Ouvi apenas alguém dizer: "(...) Nunca tiveram eletricidade (e outras coisas que agora não me lembro)"; "(...)Contentam-se com uma bola de futebol (...)". Depois, a entrevistadora perguntou a um dos meninos: "O que é que vos falta?", ao que o menino respondeu: "Nada... nada. Não nos falta nada".
Que inveja que eu tenho desses meninos! Pensamos que eles, apesar de serem pobres, precisam de ajuda. Bem, quem precisa de ajuda somos nós! Corremos sempre atrás de mais, queremos sucesso, status, horas extras! Nada nos satisfaz. Digo por mim. Vidros fechados, ar-condicionado ligado, enquanto a vida corre lá fora. Paro no sinal, um menino bate no vidro, sem baixar o vidro aceno com a cabeça que ''não''. Não, não. Nem mesmo sei o que ele queria. Mas eu estava atrasado, justifico à mim mesmo quando abre o sinal. Eu não tinha dinheiro, estou precisando de dinheiro! Tenho minhas contas. Carro, seguro, celular, barzinho, gasolina. A propósito eu já almocei hoje... mas e ele? Chego no trabalho e logo esqueço daquela cena, como sempre. Comove mas não move. Eterno hipócrita.
Nada nos satisfaz. Ainda somos muito pobres por dentro. Tanta coisa nós desejamos e, contudo, tanta coisa que temos a mais que esses meninos, que eram felizes apenas com uma bola de futebol. Queremos ser inteligentes, ser amados, ser felizes, ter sorte na vida, ... Esses meninos, que nada desejavam, eram mais felizes que nós, que tudo desejamos.
John Stuart Mill dizia: "Aprendi a procurar a felicidade limitando os meus desejos e não satisfazendo-os". Concordo plenamente com ele. Apesar de a frase não me sair da cabeça, tenho que admitir que é difícil. É difícil abandonar o que sempre desejamos porque sempre o desejamos.