Um mundo por imagens
Em 2010, a FUVEST, Fundação Universitária para o Vestibular, que seleciona os alunos da USP, teve como tema de redação “Um mundo por imagens”, e muitas foram as redações contempladas com nota máxima, abordando desde o quanto a cultura é comprometida quando as imagens tomam mais lugar do que as palavras nas revistas, por exemplo, até a respeito de que tudo o que nos é passado, seja através dos outros, dos meios de comunicação, dos livros, das novelas ou seja através dos nossos próprios olhos são apenas imagens do que realmente ocorre, interpretações sempre subjetivas de um mundo que nos rodeia. Aliás, esse é o intuito de um tema tão amplo, gerar diversas ideias e despertar diversos debates a seu respeito.
No entanto, atualmente, acredito que possa ser feita uma específica alusão a esse tema, no que tange às redes sociais. Uma crítica, para ser honesta com o querido leitor.
Recorrentemente, as pessoas “pausam” vários momentos de suas vidas para um Snapchat, um post no Twitter, uma foto no Instagram, uma atualização de status no Facebook, como se o momento vivido de nada valesse se não registrado, na maioria das vezes, exageradamente.
É óbvio que os smartphones facilitaram muito a memória de vivências importantes, algo que não era tão acessível na minha infância, caro leitor, ou seja, ao longo da década de 90, do mesmo modo que esses aparelhos o são; no entanto, quando esse mundo por imagens que as pessoas fazem da própria vida e o modo como veneram o mundo por imagem das outras pessoas as tiram do senso de veracidade e do quanto aquilo é complementar e não necessário, muitas vezes não refletindo a realidade, preocupante torna-se a situação.
Há várias blogueiras e youtubers famosas, que fazem diversos posts sobre maquiagem, cabelo, testes de produtos em alta no mercado, comédia e até debatem assuntos da atualidade que ganham alta visibilidade nessas redes sociais, tornam-se modelos idealizados e seguidos por seus “seguidores” (ficou redundante, eu sei, mas esse nome não é à toa), e que devido ao tamanho público e influência atingidos começam a ser pagas para o que já faziam espontaneamente, só que de modo mais induzido, e que muitas vezes o seguidor não sabe.
A partir de então, começam a fazer propaganda, implícita ou explícita, de marcas (de roupas, biquínis, suplementos, dietas, academias, nutricionistas, e até de cintas que afinam a cintura – se quiserem deixo o contato para as leitoras de uma maravilhosa; parei) ou seja, uma gama de áreas que induzem a um consumo passivo e a uma insatisfação com a vida levada pelo fato de tão perfeita ser a apresentada nesse mundo por imagens.
Todavia, muitas dessas influências não percebem o quanto podem afetar a vida daqueles que sofrem seus efeitos, ainda que esse não seja o propósito, e quando percebem a proporção que isso pode tomar, algumas dessas famosas revelam que muitas daquelas fotos maravilhosas que fazem suas vidas parecerem sempre interessantes e livre de problemas, e que por isso é necessário seu compartilhamento demasiado, são nada mais do que ensaios para a marca x, num local y, que leva um tempo t às vezes estressante para a “perfeição” desejada. Que aquela dieta maravilhosa junto daquele suplemente teve um patrocínio irresistível e inegável, e que aquele mundo por imagens muitas vezes não passa de um mundo por imagens, mas arbitrariamente montadas, e que superam as editadas de atrizes e atores, já antes ignorado pelo querido leitor o conhecimento sobre a edição, algumas cirurgias, além de tratamentos estéticos, e que ainda assim se pressionou e teve sua autoestima afetada por uma pressão baseada na ilusão de perfeição imposta por padrões midiáticos.
Portanto, perceba que se os seus olhos captam um mundo por imagens sempre carregado de subjetividade, imagine o quanto o mundo por imagens de outras pessoas não foi conscientemente e subjetivamente programado para exibir exatamente as imagens que elas queriam fazer parecer de si mesmas, e o quanto isso somado aos padrões sociais pode causar um impacto ilusório do que você precisa ter, ser ou viver. Fica a reflexão ao, sempre bem-vindo, leitor.
Março de 2016