Solidão a Dois

Já teve sonhos em que não cabia mais quem estava ao seu lado? Sonhos que sonhava sozinho sem que o outro se torne necessário? Já sentiu que era melhor guardar suas opiniões, desejos, sentimentos e percepções por que não consegue as compartilhar com quem está ao seu lado? Já teve a sensação de que pode viver melhor o que sente e o que aprende se guardar só para si? Já teve a impressão que não precisa do outro para viver ou experimentar nada do que quer ou pode?

Se você já se fez estas perguntas você vive uma solidão a dois. Esta ao lado de uma pessoa, casado, compromissado em namoro ou outra coisa, mas de fato esta vivendo sozinho.

Suas dores, percepções e prazeres são só seus? Perdeu a perspectiva de dividi-los, de torná-los compreensíveis e compartilháveis com que está ao seu lado? Você está só, embora não tenha se dado conta disto.

A desilusão é a consciência disto. Mas é possível ter consciência disto e acreditar que a solidão é algo da vida, um presente amargo e irrecusável dos tempos e o preço de um casamento de longa data. É possível ter esta consciência e ainda assim cair numa armadilha existencial.

O que é esta armadilha? Você acha que esta solidão é uma condenação. Algo que nunca mais será quebrado. Você acha que viveu belos momentos de intimidade amorosa que nunca mais vão se repetir. Este erro é o mais perigoso que alguém pode cometer contra a própria vida.

A solidão quando é uma escolha é válida. Mas alguém realmente escolhe quando acha que isto é coisa da vida, uma condição para se manter uma comodidade de um relacionamento?

Amar alguém é visitar o passado. É viver um amor proibido na infância projetado na figura de um estranho e ao mesmo tempo familiar indivíduo. Freud fala exaustivamente nisto.

Um relacionamento que não tem mais intimidade é o mesmo que viver a frustração das primeiras vivências amorosas em que o tabu do incesto representa o medo da castração, em um sentido muito mais íntimo do que físico.

Então esta experiência do passado precisa ser positiva precisa antes viver as possibilidades através da projeção e não as negações e interdições que marcam este passado. Relacionamentos em que os parceiros não se compreendem mais é antes de tudo um relacionamento em que a intimidade esta se tornando impossível.

A partir disto, podemos fazer muitas coisas. Se acomodar e desistir de viver o amor. Tentar uma reaproximação, o que poderá ser tão artificial quanto frustrante. E finalmente enfrentar a realidade de sua vida e buscar as experiências íntimas positivas e proveitosas pra você.

Esta crença ridícula de um amor incondicional dificulta muito encarar a realidade e propósito de uma relação: o outro é a ponte para você mesmo e você a ponte para que o outro encontre a si mesmo. Quando uma destas pontes se rompem só resta o egoísmo por um lado ou por outro a disposição em se sacrificar por tradições, convenções, comodidades, filhos, condições de vida, crenças religiosas, etc.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 26/11/2016
Código do texto: T5835098
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