A FALÁCIA DA MODERNIDADE
A modernidade é associada de modo convencional aos impactos da revolução francesa sobre o imaginário ocidental em sincronicidade com as transformações cotidianas provocadas pela revolução industrial e que, combinadamente dariam origem a sociedade urbana e de massas.
Tal leitura da modernidade inspirada por certa herança iluminista, que funciona apenas como mito de origem das democracias ocidentais oitocentistas, pouco define as transformações culturais dos últimos quatro séculos e seus impasses.
Se a revolução copérnica e seus desdobramentos na filosofia de Descartes e na filosofia politica de Hobbes já denunciavam a modernidade como o momento em que a consciência introspectiva e a subjetividade se inventava no imaginário europeu sob as ruinas do mundo da tradição e da metafisica, elas não ofereciam um roteiro para os contemporâneos no que diz respeito a um projeto de nova sociedade. O pensamento moderno não constrói qualquer utopia, mas representa a objetivação da realidade pelo sujeito cognoscente que ao mesmo tempo que se descobre como tal projeta na natureza um telos que personifica sua vontade de uma ordem concreta e racionalmente possível da sociedade politica.
A idade moderna, tal como passou a ser representada no discurso hegemônico e legitimador da ordem politica oitocentista europeia, da sua afirmação do progresso e evolução do gênero humano, não passa de um engodo definitivamente desconstruído pela barbárie civilizada do sec. XX e suas diversas guerras internacionalistas.
Neste novo século a ideia de uma modernidade ocidental inspiradora de um projeto de sociedade politica não passa de uma grande piada diante dos paradoxos e impasses da cultura republicana.