Cumplicidade
Era de cristal. Frágil e delicado, fino que nem uma taça. Em dias de glória transbordava e embriagava os amantes. Durante a estadia, muitos segredinhos foram minando o cristal transparente.
Quebrou. Esfarelou em mil pedaços no chão, derramando o vinho no assoalho da casa intensa. Os anos foram passando e os segredinhos enraizados aumentavam cada vez mais. O coração de porcelana não suportou as vagas respostas. Deixou de ser cristal e transformou-se em ferro maciço. A essência ainda é a mesma, as lembranças também.
Mas, como recuperar uma taça tão rara quebrada? Como reconstruir um coração de porcelana tão frágil?
Era fino, igual a um rubi, mas era pouco, vago, sigiloso e se acabou. O coração de porcelana anda em outros braços, outra boca, outros sonhos. A taça renasceu ainda mais fina. O vinho tornou-se mais saboroso e adocicado. A boca que hoje o degusta vive sempre na transparência. O coração deu lugar a uma porcelana ainda mais rara.
Um amor sem cumplicidade é fatalidade ensaiada!