Tudo sempre volta até você
Eu acordei esta manhã e não havia nenhum sinal de você. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Era como se você nunca tivesse existido. É estranho porque eu sinto que deveria fazer alguma coisa importante, mas não consigo me lembrar o que era.
Eu caminhei pelas ruas esta manhã e você não estava segurando minha mão. Eu não o vi bocejar ao meu lado enquanto reclama da chuva, não te ouvi resmungar pela falta de açúcar no seu café. É estranho porque eu sinto que deveria te dizer alguma coisa, mas não consigo formar as palavras certas.
Eu entrei naquela sala de cinema onde nos beijamos a primeira vez, e você não estava lá com pipoca entre os dedos me pedindo pra prestar atenção nos detalhes daquele longa metragem que você tanto gostou. Eu guardei um lugar ao meu lado, porque não importa a hora nem o momento, eu te aceitaria de volta sem arrependimentos. Mas você não estava lá. É estranho porque, eu sinto que já deveria ter superado você, mas para mim parece muito errado tudo isso.
Eu te vi andando pelas ruas ao entardecer, você usava aquele terno que eu escolhi, e seu cabelo estava bem arrumado para trás. Eu vi que você seguiu em frente com um novo alguém, ela usava um vestido preto com rendas bordadas e caminhava ao seu lado. Ela segurava sua mão. É estranho porque eu sinto que deveria fazer alguma coisa importante, mas não consigo lembrar o que era.
Eu ainda fico nervosa quando você caminha no corredor. Eu passo por você e finjo que não te conheço, é como se nunca tivéssemos nos conhecido.
Eu acordo na manhã seguinte e não há nenhum sinal de você. Nenhuma mensagem, nenhuma ligação. Eu chego a conclusão de que eu deveria estar esquecendo de fazer alguma coisa, mas eu descubro que o esquecimento é apenas minha defesa mais profunda que me impede de comprar aquele chocolate que você gosta e guardar no bolso da sua camisa. Você não consegue se concentrar na papelada do trabalho sem aquele chocolate.
Eu caminho novamente pelas ruas nesta manhã e percebo que você não caminha ao meu lado. Eu ouço um estranho bocejar e reclamar do clima, eu o observo e me sinto quebrada por aquele não ser você. Eu me pego imaginando que você vai aparecer andando atrás de mim e eu vou poder te dizer todas as coisas que eu tenho guardado. Mas quando eu olho para trás não consigo te encontrar na multidão de rostos perdidos.
Eu ficarei nervosa novamente quando nos encontrarmos no corredor hoje. E eu vou segurar cada uma das lágrimas que tentarem escorrer dos meus olhos, porque se você quiser voltar pra mim eu estarei esperando de braços abertos e sem arrependimentos, mas prefiro que transbordemos de amor verdadeiro, e não pairemos na concordância rasa causada pela pena. Afinal você nunca gostou de me ver chorar.
Eu entrei naquela sala de cinema onde nos beijamos a primeira vez, eu olhei ao meu redor e percebi que não importa quantas cadeiras vazias existam ao meu redor, sempre haverá um lugar reservado à você, eu sempre vou acordar cedo de manhã esperando te beijar, eu sempre vou lembrar de comprar aquele chocolate com amendoins, eu sempre vou escolher caminhar pelo seu corredor e eu sempre irei imaginar se ela consegue te amar como eu. E todas essas pequenas coisas, que agora desapareceram do meu dia a dia, serão as mesmas coisas que me farão lembrar de nós, porque de uma forma ou de outra, esse vazio é bom, ele me faz lembrar que antes era preenchido por você e essa é a única prova de que você foi real.
É estranho porque eu sinto que já deveria ter te superado, mas continuamente tudo sempre acaba voltando até você. E eu espero que ela lembre de colocar o chocolate na sua camisa, eu não esqueci.