Necessidade do caos

Nietzsche, filósofo alemão pelo qual tenho muito apreço, tem uma frase que adaptada a tradução diz assim “Somente quem possui o caos dentro de si é capaz de criar uma estrela bailarina”. Carrego essa frase comigo há muito tempo sempre tentando entender o quanto dela se aplica na vida.

Recentemente em um episódio do seriado The Westworld da HBO, Dolores, umas das principais anfitriãs do parque, se lembra da morte de seus pais e sofre com isso, o programador diz a ela que pode apagar de sua memória tal acontecimento e ela se recusa dizendo “Por que eu iria querer isso? A dor... a perda deles é tudo que restou deles. Você acha que a dor o tornará melhor por dentro, fará seu coração partir, mas não é verdade. Sinto que espaços se abrem dentro de mim como um prédio com salas que nunca explorei”. Isso me fez pensar sobre a necessidade do caos na condição humana.

A dor sempre fez parte de nós assim como a consciência sobre sua existência, mas apesar de termos consciência sinto que temos uma tendência a evitá-la como senão fosse algo legítimo, temos vergonha do sofrimento, fechamos os olhos para os nossos sofrimentos e dos outros. Em alguns casos alimentamos vícios para esquecer a dor de sermos quem somos. Por que não conseguimos abraçar nossas dores? Encará-las e ter a consciência de que vai passar, mas naquele momento é preciso senti-la vivenciá-la porque só assim entenderemos um pouco mais dessa existência vaga e muitas vezes sem sentido. A vida existe do caos. Estrelas nascem do caos. Como coloca Marcelo Gleiser em seu livro “Criação Imperfeita”, a natureza e a vida só existem por causa das assimetrias da imperfeição. E “se quisermos nos aproximar da verdade temos que nos desapegar dos nossos ideais de perfeição”. Talvez seja da natureza humana a necessidade do caos para existir e para aprendermos a nos reinventar.

novembro de 2016

Menina Beijaflor
Enviado por Menina Beijaflor em 20/11/2016
Código do texto: T5829190
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